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19/10/2017

ENTREVISTA: Tuatha de Danann (Brasil)


A entrevista desta semana é com o a banda Tuatha de Danann que atualmente é composta por: Bruno Maia (Vocal, Guitarra, Violões, Bouzouki, Banjo, Flautas e Bandolin), Giovani Gomes (Baixo), Edgard Britto (Teclados), Alex Navar (Uilleann Pipe) e Rodrigo Abreu (Bateria). Um dos membros fundadores da banda, o Bruno Maia, nos concedeu uma entrevista exclusiva, onde ele conta um pouco o início da carreira do Tuatha, o papel da internet na cena, a parceria com o Martin Walkyier, o Festival Roça 'n' Roll e muito mais, confiram:

EC – Primeiramente gostaria de lhe agradecer Bruno, por aceitar realizar a entrevista para o Elegia e Canto. Você poderia nos falar um pouco como surgiu a ideia de formar o Tuatha de Danann?
Bruno: Eu é que agradeço em nome de toda a banda o espaço, valeu mesmo. A história da banda se mistura totalmente com a história da minha vida, pois desde os 8 anos eu toco violão, com 10 anos já compunha minhas primeiras músicas e com 11 já tinha guitarra elétrica. Fatalmente, para o bem ou para o mal, eu mexeria com música e dedicaria minha vida de alguma forma a ela. A banda mesmo, o embrião dela, surgiu em 1994 em varginha sob o nome Dark Subconscious. Dessa formação restaram apenas o Giovani Gomes e eu na banda. Eu tinha 13 anos nessa época e o som da banda era bem death doom metal. Como ainda éramos crianças/adolescentes era natural que aquele som se desenvolvesse, evoluísse e essa evolução acompanhou nosso crescimento enquanto ser humano( do fim da infância até hoje em dia). O lance de involver a cultura celta veio de mim, pois a cultura celta, e  principalmente a mitologia desse grande povo, se tornou minha paixão desde muito novo também, desde criança. Daí uni as duas paixões. Claro que nosso som mudou demais desde então e tamo aí, firme.

EC - O Tuatha é a principal referência quando o assunto é folk metal no Brasil, vocês realizavam essa vertente do metal, muito antes deste “boom” que aconteceu nos últimos anos com o surgimento de diferentes bandas de folk metal no Brasil e no mundo. Como você se sente sabendo que foi, e é fonte de inspiração para tantas bandas?
Bruno: Realmente, quando começamos não existia internet, essas coisas. É difícil explicar aqui nesse espaço e dessa forma, mas era tudo muito escasso, não conhecíamos muitas bandas. A única banda de folk metal que existia pra nós era o Skyclad, e tinha também o Jethro Tull, mas isso já era outro mundo. Existiam bandas que flertavam vez ou outra com música medieval como o Blind Guardian, o Rhapsody quando apareceu, mas isso também foi um pouquinho depois ( pelo menos, pra chegar forte aqui no Brasil etc). Nos correspondíamos com pessoas do mundo todo e sabíamos que existia o Cruachan e o Waylander na Irlanda, mas só. Desenvolvemos nosso estilo a partir de muitas influências, mas de Folk Metal mesmo, só tivemos como inspiração o Skyclad. Ser inspiração para qualquer pessoa é muito legal, né? Quando vemos bandas fazendo covers nossos, assumindo a influência da banda em suas músicas ou mesmo admiradores que tatuam nossos símbolos, trechos de letras, capas e até fazem escolhas que transformam suas vidas( sempre para o bem, devo dizer), ficamos super lisonjeados e realizados, não tem coisa melhor e é quando vemos que a luta valeu.

EC – Vocês consolidaram o Tuatha como uma banda, fundamental na história do metal nacional, construindo através dos anos, uma base de fãs fiéis. Mas desde a formação da banda, até hoje em dia, muita coisa mudou no cenário underground nacional. Como você percebe hoje o papel da internet para as bandas? E quais as principais mudanças e dificuldades de se manter uma banda no Brasil?
Bruno: Realmente, temos fãs muito fiéis e que nos entendem enquanto pessoas, como músicos e toda nossa relação leve porém compromissada com a música e com a banda. Essa relação entre nós e essa galera que nos admira e acompanha nasceu e foi mantida de forma natural: não fazemos teatrinho, nem vídeos engraçadinhos, não tratamos ninguém de forma superficial e nem somos estrelas. Somos os mesmos caipiras do interior de Minas Gerais que amam fazer música e ser dessa banda mágica- com tudo que isso envolve. Quanto a internet, é uma coisa de louco o que o mundo virou depois dela, há aspectos bons, ótimos, ruins e péssimos. No mundo da música ela quebrou a indústria musical, ou pelo menos uma imensa parte dessa indústria, mas tem também o lado legal de ter possibilitado que muitas bandas e artistas divulguem seu material de forma até gratuita para todo o mundo. Claro que não é assim que a coisa vira, mas é possível ser visto e ouvido … Um aspecto que pra mim é péssimo e que aqui ressalto é como a música, o ouvir música, a experiência e a fruição musical e toda essa coisa foi banalizada; sem contar  os downloads ilegais, a desvalorização do trabalho artístico que pode ser roubado, baixado etc… As dificuldades, ao meu ver, aumentaram, e muito,  pois não vendendo cds, com a internet às mãos, spotify etc, as bandas alternativas, as novas, as sem dinheiro para investir em divulgação e comprar espaços se ferram, pois não se cria um público. Daí, toda a cadeia do circuito underground se ferra também, pois a banda não tem fãs, o cara que promove shows  não contrata a banda pois ela não leva público, daí ele tem de chamar bandas covers ou bandas um pouco mais famosas….daí vai. O meio metal, depois da hiper globalização e da net, aglutinou mais características do mercado pop e está cada vez menos underground e alternativo, pois só consomem e conhecem as bandas que estão nas matérias das revistas, em anúncios pagos, ou sei lá o que. O pessoal antes ia para um show pra conhecer bandas, curtir som novo e tudo mais. Hoje tão parecendo os baladeiros que vão a um evento ou show só pra curtir a repetição, seja com bandas covers ou com bandas mais famosas. 

Capa do último lançamento Dawn of a new sun
EC – Houve um período de 11 anos entre os álbuns Trova Di Danú (2004) e Dawn of a New Sun (2016). Percebemos no último álbum mais peso e agressividade, claro que mesclados com os tradicionais elementos folks presentes na sonoridade da banda. Mas foi proposital essa mudança? O que inspirou vocês na composição do Dawn of a New Sun?
Bruno: Não foi nada intencional, nunca o foi nessa banda. Deve ter sido uma escolha inconsciente nossa, talvez por termos enveredado por caminhos mais progressivos com nossos projetos esses anos. Desde o lançamento do “Trova di Danú”, eu e alguns membros da banda nos envolvemos em projetos mais abertos, progressivos e diversos como o Braia e o Kernunna( de que fizeram parte o Edgard, o Giovani e o Rodrigo Abreu) e também o Berne e o Giovani tiveram outra banda também, o Tray of Gift. Acho que por termos lavado a alma em projetos paralelos ao Tuatha, enxugamos, sem pensar, as músicas do Dawn.

EC – A parceria do Tuatha com o Martin Walkyier já vêm acontecendo há vários anos através das suas apresentações no Roça ‘n’ Roll, mas foi consagrada com a gravação da música Rhymes Against Humanity presente no álbum O Dawn of New Sun, resultando também, em um show em São Paulo este ano. Como surgiu essa parceria?
Bruno: O Martin era nossa grande referência de som pesado junto de música folk etc. Desde quando vimos o clipe de Thinking Allowed. O som, a letra, o visual. Ele era e é ainda um de nossos ídolos. A diferença é que hoje somos muito amigos( é um privilégio enorme você poder dizer que é amigo de um cara que é um ídolo seu desde sua infância). A amizade começou quando achei seu contato na net e o convidei pra vir no aniversário de 10 anos do Roça’n’Roll. Ele veio e o Tuatha foi sua banda de apoio. Ele ficou algumas semanas aqui no Brasil, aqui em casa e a amizade nasceu aí. Ele veio outras duas vezes já e temos uma amizade realmente forte, ele vem e passa um mês conosco, é da família já. No disco “Dawn of a New Sun” ele escreveu 3 letras e ainda cantou na “Rhymes…” que é, sem dúvida, uma de nossas músicas mais legais. Em primeira mão, tem coisa nova vindo aí dessa parceria.

EC – Por falar em Roça ‘n’ Roll, eu não poderia perder a oportunidade de perguntar sobre o festival. Esse ano, eu tive a oportunidade de estar no meu primeiro Roça ‘n’ Roll, e eu pude confirmar que o clima do festival é diferente de tudo que rola pelo Brasil, as montanhas mágicas da fazenda Estrela, abençoam o maior festival underground da América Latina. Você algum dia imaginou que o festival ia tomar proporções tão grandes? E como funcionam as escolhas das bandas que tocam em cada edição?    
Bruno: Valeu os comentários. Nutro pelo Roça o mesmo amor que nutro pela banda.Afinal comecei a banda com 13 anos e o Roça’n’Roll com 18, é uma coisa de vida. São muitos anos cultivando essas duas dimensões da minha vida. E ambos cresceram naturalmente, sem grandes intervenções, tendo apenas a vontade de fazer e amor regando. Não imaginava que ele fosse crescer a ponto de virar referência e ter toda a exposição que ele tem hoje em dia. Muitas pessoas me ajudaram e ainda ajudam pro Roça acontecer, pois ele virou um evento grande com várias frentes, e eu sou só um músico no meio da parada. Não é prosinha, mas tenho certeza que o público do Roça é o mais massa que existe no mundo, sem demagogia isso. Não digo isso com nenhum tipo de mineirança nem nada, mas o clima do festival que é gerado pela energia do público que lá vai é uma coisa de louco. É uma galera que entende o festival, mesmo quando temos problemas, limitações e tudo mais. O Roça’n’Roll não é um evento que atende a mercados, ele tem um compromisso com a cena autoral, com o artista que luta por um espaço descente pra mostrar sua música… Somos mais um movimento que um evento, e lá se vão 20 anos.

Apresentação no Roça 'n' Roll, 2017
EC – Um dos principais pontos que destacam o Roça ‘n’ Roll de outros festivais e eventos nacionais, e o seu foco em bandas autorais. Hoje temos visto o surgimento de muitas bandas covers, que muitas vezes “disputam”, digamos assim, o espaço com as bandas autorais. Por que você acha que está acontecendo isso? Você teria alguma dica para quem está começando uma banda agora?
Bruno: Como disse acima, nossa meta é fomentar a cena autoral dentro do Metal nacional. Acreditamos no potêncial multiplicador que o Roça tem e como ele pode servir de instrumento inspirador e ferramenta expositora para muitas bandas. O que posso dizer às bandas é o que acredito e nem sei se isso é de muita valia, mas acredito que o artista tem de fazer sua arte sem se preocupar demais com as demandas do mercado e das tendências do show business. Faça sua arte com sangue e coração, pois daí você não se frustra. Se você acha que vai ganhar o mundo ou muito dinheiro fazendo rock ou metal no Brasil, você está enganado. Você vai é gastar. Por isso falo pra fazerem o que gostam tendo o próprio fazer como realização, vendo a arte como o fim e não o meio.

EC – Em 2005, o Tuatha realizou sua primeira turnê européia, e se apresentou no Battle Metal do Wacken Open Air, maior festival de metal do mundo, e vocês ganharam o prêmio de melhor banda estrangeira. Como foi essa experiência para você? E em 2018, vocês voltam a Europa para o festival Iberian Warriors Metal Fest na Espanha, quais as expectativas para esse show?
Bruno: Putz, esse lance do Wacken foi foda!!! Estávamos já há um mês fazendo uma turnê pela França e Alemanha e o WOA era o último show. Era um lance pra fechar com chave de ouro a parada. A gente é tão lesado e meio fora do ritmo que nem sabíamos que concorríamos a algo, e, de repente, ganhamos hahahaha. Foi demais. Estamos super ansiosos com essa volta a Europa, será muito realizador para o Tuatha.

EC – Em 2016 vocês realizaram a regravação do seu primeiro álbum de 1999. Recentemente vocês anunciaram que estão regravando o EP The delirium has Just began, e que irão incluir uma música nova. Porque resolveram relançar esses trabalhos? E o que o público pode esperar da nova música?
Bruno: Muita gente entendeu errado, pois não estamos regravando o “The Delirium…”. O que acontece é que este álbum ficou fora de catálogo por uns 4 anos e muita gente pedia, procurava esse cd pra comprar, etc… Nós o estamos relançando, mas daí pra ficar mais atrativo, estamos colocando 2 músicas bônus, uma nova e uma regravação de um dos temas do disco. Já o primeiro disco a gente regravou ele quase inteirinho, por isso até mudamos a capa dele. Mas isso foi porque ele foi gravado há muitos anos, em condições brutas e tinha muita coisa desafinada, fora do tempo, um trem de doido mesmo. Já o “Delirium” foi bem feitinho, fiel à sua época e tudo mais, daí n carece de refazimento, rolam só uns bônus.

EC - Vocês estão trabalhando em um novo álbum de músicas inéditas? Quais os planos para o futuro?
Bruno: Já temos umas músicas sendo trabalhadas.Ideias novas sendo mexidas e acho que vamos fazer um disco diferente….bem menos direto que o “Dawn”. Acho que este fica um pouco mais torto, vamos ver.

EC – Novamente gostaria de agradecer pela entrevista, você poderia deixar uma mensagem para os nossos leitores e fãs do Tuatha de Danann?
Bruno: Valeu demais Elegia. Esse espaço é muito importante pra nós, bandas que ainda lutam no subsolo, valeu mesmo. A todos que nos acompanham, muito obrigado. Vocês com sua presença nos shows e com as aquisições do material físico da banda é que tornam possível a banda continuar a existir, valeu demais. A quem não nos conhece, porque não dar uma chance e procurar ouvir a banda?!!?! Às vezes a mágica te pega….valeu. Que a Força esteja com todos vocês! 



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