29/06/2017
ENTREVISTA: Cyber Croatoan (Brasil)
A entrevista dessa semana é com a banda Cyber Croatoan, diretamente de Goiânia a banda mostra a força de toda cena underground do centro-oeste. Fazendo uma mistura de varias influências dentro do metal, a banda criou um som único e característico. Conversamos com o fundador da banda Phillipe Cadaverico, onde ele contou a história da banda e planos para o futuro, vamos conferir:
EC - Primeiramente gostaria de lhe agradecer Phillipe Cadaverico por aceita realizar a entrevista para o Elegia e Canto. Como surgiu a ideia de forma a banda? E como está à formação atual do Cyber Croatoan?
EC - Como você teve contato com o metal? Quais são as suas principais influências musicais?
Phillipe: O primeiro contato com o metal e com o mundo underground foi no ano de
2002, eu fui na casa de um primo e ele estava ouvindo algo muito surreal, e eu
me lembro bem que perguntei a ele o que era aquilo, e ele me disse que era uma
banda que se chamava Tristania. Nesse momento eu simplesmente me apaixonei por
aquilo, eu senti que eu tinha finalmente me encontrado em algo. Eu fui uma
criança sem muitos amigos e não me dava muito bem socialmente na escola e nem
nas ruas, o que me fazia ficar muito tempo sozinho e pensando sobre tudo. O que
faltava era uma trilha sonora pra enaltecer aquilo, e eu finalmente tinha encontrado.
Ele me emprestou esse cd Windows Weed's nesse dia e eu passei a noite toda
ouvindo e tentando entender aquilo tudo, o porquê de eu me emocionar tanto. Foi
esse o meu primeiro contato com o metal, desde então até hoje eu sigo firme e
não vejo minha vida sem isso. Minhas
principais influências musicais são no geral essas bandas de Gothic Metal e
Black Metal como Tristania, Lacuna Coil , The Gathering , Theatre of Tragedy,
Nightwish , Cadaveria, Opera IX, Marduk , Emperor e as bandas de industrial
Otto Dix , Psyclon Nine, Igorrr, Hocico e outras. No geral tudo dentro da
música me influência, desde o eletrônico mais sombrio e psicodélico, ao metal
extremo, o folk , o new age como Enya e Bjork. De tudo um pouco.
EC - O Cyber tem um som muito característico. Como surgiu a ideia de
introduzir música eletrônica ao metal? De certa forma é um subgênero novo, você
poderia falar um pouco sobre ele?
Phillipe: A ideia foi justamente de estar produzindo músicas em programas digitais
e estar ouvindo essas bandas de Industrial que citei, vi que era possível levar
uma mensagem obscura as pessoas de uma maneira diferente. Eu tinha a certeza de
que isso na época traria impacto por ser diferente, particularmente eu sempre
quis renovar as coisas em tudo que eu faço, eu não queria ter apenas uma nova
banda de metal comum, eu queria mais, eu queria misturar todas essas
influências de uma só vez. Nos rotular como industrial de certa forma, soa mais
fácil para as pessoas entenderem, porém acredito que somos muito mais do que só
isso, porque em nossa música a elementos da música clássica, do death metal, do
folk metal, do doom metal, do psycho trance, e tudo isso de uma forma agressiva
e ao mesmo tempo depressiva. Teve pessoas que simplesmente se apaixonaram por
essa fusão e outras que odiaram com a mesma intensidade hahahaha, o que pra mim
é normal, não dá para agradar a todos não é mesmo? Quando algumas pessoas
acreditaram nesse novo subgênero e viram que tínhamos capacidade de ir além ai
resolvemos expor sem medo das críticas. O primeiro passo importante é você amar
o que você faz, isso faz, com que as pessoas comecem a amar também.
EC - A banda é de Goiânia, um lugar
nacionalmente conhecimento pela música sertaneja. Como é ter uma banda de metal
na cidade? E como é a cena underground de Goiânia?
Phillipe: Incrivelmente a cena de Goiânia é muito forte e
tem grandes bandas de nomes como o Luxúria de Lilith, Ressonância Mórfica,
Heavens Guardian e outras que nos representa em todo o Brasil e exterior. Acho
que em outros estados todos tem essa visão de que aqui o que predomina é o
sertanejo, mas na verdade a maioria desses tipos de cantores saem daqui e fazem
sucesso fora daqui. Direto tem eventos undergrounds aqui, inclusive de graça
nos finais de semanas, com muitos shows onde se misturam todo tipo de pessoas,
dos Punks aos Góticos no mesmo ambiente, e todos em sintonia e respeito mútuo,
o que ajudou a quebrar muitos estigmas de que os cenários não podem se
misturar. Ainda bem que isso acabou. Ter
uma banda assim na cidade é muito legal e divertido, ao mesmo tempo engraçado
porque sempre que somos vistos em alguns lugares chegam pessoas pra nos cumprimentar
e tirar fotos e muitos até estranham porque eu sou muito acessível e converso
com todos quando se diz respeito a nossa música. A ideia é espalhar o som e a
liberdade. O sertanejo não nos atrapalha em nada, eu até arriscaria a fazer um
dueto com algum cantor sertanejo se eu fosse convidado srsrsr (brincadeira
gente) .
EC - O primeiro álbum da banda é o "Past of Pain" (2010), você
poderia falar um pouco do conceito do álbum e das músicas?
Phillipe: O conceito do álbum gira em torno de um problema emocional que eu tive
nessa época. Na verdade o término de um namoro que me deixou transtornado nessa
fase. Quem nunca passou por isso não é mesmo?
Eu acho que eu não estava pronto pra aquela carga emocional que os
sentimentos humanos me proporcionaram e perdi o controle completo da minha
vida, consequentemente emprego, amigos, tudo foi pelos ares, e me senti
totalmente perdido e sozinho. Comecei
então a escrever pequenos poemas, textos sobre isso, quando fui produzindo os
instrumentais no programa de estúdio, vi que as letras tinha conectividade com
aquele clima que as músicas emanavam.
Claro que no álbum tem outros tipos de temas, como o anti-fanatismo da
religião cristã, sobre o governo, sobre a gente ser quem a gente é e ser
respeitados por isso. Um pouco de ocultismo também, porque trago isso dentro de
mim acho que devido a influência do black metal na minha vida. E acho que
combinou bastante no resultado geral. Eu particularmente, hoje em dia ouvindo a
produção do álbum, não me agrada muito, eu poderia ter feito melhor com
certeza, porém eu não tinha tanta experiência na área, fiz tudo sozinho sem
ajuda de ninguém e não sabia direito o que eu realmente estava fazendo hahaha
como disse, eu estava totalmente perdido e transtornado com tudo que me vinha
acontecendo, tipo uma revolta com tudo do mundo todo. Mas no final foi
benéfico, consegui expulsar muitos demônios que me atormentavam a mente e
deixei algo para a posteridade. Me orgulho desse trabalho, mas poderia ter
feito melhor com toda certeza. Por isso o trabalha se chama: Passado de Dor.
Acredito que nunca antes disso eu tinha sido tão sincero comigo e com todos
sobre os meus sentimentos.
EC – O Cyber fez á música "Kuarup Rito dos Mortos" ao lado da
banda Arandu Arakuaa, misturando o metal indígena com o eletrônico, criaram uma
sonoridade única. Como surgiu essa parceria? E como foi o processo de
composição?
EC - A sua voz é definitivamente o principal diferencial da banda, indo
do gutural ao vocal limpo. Como você consegue administrar técnicas vocais tão
diferentes? Tem alguma dica para quem busca cantar com as duas formas?
Phillipe: Muito do que faço com minha voz vem do tal do feeling sabe? Da raça
mesmo! hahahha Essas bandas todas me influenciam
demais e faz com que eu queira cantar daquele modelo. Eu misturo o canto
operístico e o gutural simultaneamente, vozes infantis, vozes doentias,
guturais raivosos e às vezes sofridos. Tudo varia de acordo com o sentimento da
música. Eu acredito que em mim existam algumas múltiplas personalidades para
que isso ocorra, sim eu sou bem doido mesmo kkkkkkkkk. Mas aliado a isso eu
passei a estudar técnicas de aquecimento de voz, estudos para aprimorar o que
eu já vinha fazendo. Eu sempre pensei: Porque não um homem cantar com voz
lirica feminina e ao mesmo tempo gutural, já que existem mulheres que fazem
isso não é mesmo? E decidi arriscar
isso. No início confesso que sofri bastante preconceito, alias com tudo, com
minha música, com minha voz, porque sempre me julgam por tudo hahaha hoje em
dia eu vejo que isso é bom, porque me encoraja a continuar. Os anos também de
prática me ajudaram muito a manter a voz e hoje sou 100% seguro quando canto.
Eu realmente amo cantar, acho que é os melhores momentos da minha vida quando
eu faço isso, seja pra mil ou uma pessoa só.
A dica que eu dou é buscar aprender a tocar um instrumento para se ter
noção das notas musicais para tentar emitir junto com a voz, isso ajuda muito
em termos rítmicos, técnicos e tudo mais. Hoje em dia estudo piano clássico, e
isso me ajudou muito como entender tudo sobre a voz.
EC - A banda agora está trabalhando na gravação do seu segundo álbum.
Você poderia adiantar algumas novidades para gente?
Phillipe: Sim sim, há 3 anos e 5 meses nós viemos trabalhando no nosso segundo
álbum oficial, mas acredito que esse será de fato o "primeiro" no que
diz respeito a qualidade sonora de fato. Trabalhamos nos mínimos detalhes de
tudo, cada pequena vírgula foi estudada dessa vez. As músicas estão muito
carregadas de muitos instrumentos, agora reais também como guitarras e bateria
que vamos ter com a ajuda de amigos de outras bandas como colaboração. As novidades é que agora queremos tudo de
forma bem profissional, com direito a colocar ele em todas as plataformas
digitais para alcançar mais públicos e fazer muito mais shows do que já fizemos
nesses últimos anos. E também terá clipe oficial e featurings com alguns
músicos de outras bandas que gostamos. Com a entrada da May Lee nos vocais,
definitivamente muita coisa mudou e vai mudar, e estamos gostando disso, ela
vai poder finalmente cantar e gravar algo vindo definitivamente dela, com as
letras que ela mesma escreveu, não apenas as minhas, isso vai fazer com que as
coisas tenham mais identidade e não girem em torno apenas de mim, eu quero que
elas tenham participação maior no álbum todo. Nossa DJ Ys Caldierre também terá
pontos altos no álbum trazendo suas próprias influências eletrônicas na música
do novo disco e estamos ansiosos por isso. Agora que vamos finalmente começar a
gravar as vozes desse álbum, que é apenas o que falta para o lançamento
oficial. Finalmente sai daquela maré baixa de sentimentalismo e poderemos
cantar sobre outras coisas além de amor frustrado hahaha. Mas a demora vai
valer à pena, podem apostar que vocês vão ouvir falar muito de nós ainda!!!!!
EC - Paralelamente ao Cyber Croatoan, você tem um projeto de músicas
mais ambientais com elementos folks, o V.I.T.R.I.O.L.. Poderia falar mais sobre
o projeto?
EC - Novamente obrigada Phillipe pela entrevista, antes de encerrarmos,
você poderia deixar uma mensagem para os leitores do Elegia e Canto?
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