28/09/2017

Entrevista: Hatefulmurder (Brasil)

Da esq para dir.: Felipe Modesto (baixo), Thomás Martin (bateria), Angélica Burns (vocais) e Renan Campos (guitarra)


A entrevista desta semana é com a banda carioca Hatefulmurder, eles lançaram no inicio do ano o seu segundo álbum "Red Eyes". Nesta entrevista eles falam um pouco sobre a história da banda, a cena underground carioca, a gravação do último álbum, a turnê nacional e muito mais, confiram: 

EC - Primeiramente gostaria de agradecer por terem aceitado realizar a entrevista para o Elegia e Canto. Vocês poderiam falar um pouco como surgiu a ideia de formarem o Hatefulmuder?
Renan- Primeiro gostaria de agradecer ao elegia e Canto, pelo espaço cedido e pela oportunidade da gente falar um pouco mais sobre a nossa trajetória. O hatefullmurder surgiu entre 2008 e 2009, era um trio de amigos (eu e meus dois amigos), baixo, batera e guitarra. A gente tinha acabado de sair de uma banda, que era mais um hobby, mas eu estava com ideia de montar uma banda séria, profissionalizar a coisa, sonhando né. O sonho era gravar uma demo, a gente começou a se reunir para falar sobre o projeto, falar sobre a banda, a ensaiar e a compor algumas coisas. Eu trouxe algumas coisas que tinha na outra banda e a ideia foi surgindo, até que a gente encontrou o Felipe Lameira, ele já era meu amigo e ele topou ser o cantor. A partir dai gravamos um single em 2009, em 2010 a primeira demo e começou a mudar a formação da banda, mas inicialmente a ideia era essa, um som agressivo, técnico, porque não é só agressivo, a gente procura fazer as coisas de uma maneira lapidada mas sem perder a raiz,  a ideia sempre foi essa e estamos ai até hoje, muitas coisas mudaram  mas a essência ta ali ainda.                                                                                                                           

EC - Quais são as bandas que mais influenciaram vocês? E como vocês descrevem a sonoridade da banda?
Renan: É difícil citar bandas que influenciaram a gente, o Hatefulmurder hoje é um grupo que é influenciado por diversas bandas e por diversas situações. A gente procura fazer nossa musica baseando no que a gente vê e sente, então a influencia na nossa música ela se dá não só na parte musical mas também na parte psicológica e social que a gente vive, enfim esse estado louco ai que a gente ta inserido. Posso falar que a gente escuta muita coisa, a gente ouve de tudo. Passamos recentemente 30 dias dentro de um ônibus, rodamos o Brasil inteiro  e a gente ouvia de Bezerra da Silva a Cannibal Corpse .   


Angelica e Renan durante apresentação no Hell in Rio 2016
EC - O Rio de Janeiro é muitas vezes lembrado como um lugar que não tem muito espaço para o metal... vocês poderiam falar um pouco como é a cena metal na cidade?
Renan - A cena no RJ eu tenho orgulho de falar, que de uns tempos para cá o nível das bandas melhoraram muito, a galera tem trabalhado de maneira muito profissional, isso e muito bacana, não só para o Rio de Janeiro, mas se tratando de música , metal, rock, para o Brasil e para o mundo, isso é o mais importante. Poderia citar muitas banda Lacerated and Carbonaise uma banda de death metal, som super honesto, super bem feito, de alta qualidade, inclusive os cara estão em turnê européia agora, quebrando a casa la fora. Syren é uma banda que faz Heavy tradicional, muito legal, gosto muito som do meus brothers. Em uma pegada mais moderna tem muitas bandas, No Trauma que faz um hardcorezão maneiro, têm o Reckoning Hour que saiu em tour com a  gente arregação, têm uma serie de bandas boas. Os shows por aqui tem rolado de maneira mediana, não são shows lotados, mas uma coisa que tem rolado que é legal de falar é que as bandas estão arregaçando as mangas e estão produzindo seus próprios shows, então o corre tem sido muito maior, inclusive a gente mesmo tem produzido os nossos shows aqui no Rio  e tem rolado, ninguém está rico, mas a gente consegue pagar tudo e ainda tomar um cervejinha no final. O lance é trabalhar para fazer as coisas, não adianta ficar culpando o público, dizendo que as "pessoa não apoiam o metal nacional...o metal morreu.." poxa. Se gente trouxer Iron Maiden os caras vão lotar o lugar que for , ingressos exorbitantemente caros, então não é por ai o público vai onde quer ir e isso tem que ser respeitado. Temos que continuar trabalhando, mostrando que a galera daqui não deve nada pra galera lá de fora.

EC - Em 2015 após a saída do primeiro vocalista Felipe Lameira, você Angélica assumiu os vocais do Hatefulmuder. Você sofreu algum tipo de preconceito, por ser a nova vocalista de uma banda que antes era liderada por vocais masculinos?
Angélica- Já sofri preconceito sim. Várias vezes cheguei em casas de show para tocar e a galera me vendo falava "coloca o microfone dela na configuração mulherzinha" ou "hoje tem banda de metal feminino". Só de existir essa nomenclatura já é um tipo de preconceito. Então quer dizer que mulheres tocam diferente de homens? O mundo do metal é machista da mesma maneira que nossa sociedade. Claro, que de maneiras diferentes e em níveis diferentes de cidade para cidade. Mas não podemos negar que existe o preconceito.

EC - Vocês acabaram de lançar o novo álbum da banda o "Red Eyes", lançado pelo selo Secret Service Records, do Reino Unido. Acredito que seja uma nova marca na carreira da banda. Quais as diferenças desde para os últimos trabalhos da banda? Quais foram as fontes de inspiração para a composição das músicas?
Capa do álbum Red Eyes, lançado em março de 2017
Renan: O Red Eyes é um disco que a gente tem muito orgulho dele, é de fato um divisor de águas para a banda tanto esteticamente quanto em relação as composições. A principal diferença é, modestamente falando, o amadurecimento, não só tecnicamente, cada um em seu instrumento, mas eu acho que passamos a enxergar a música sem tantos rótulos, nos permitimos trabalhar com outras referências que já curtíamos, mas que antes talvez, a gente não estivesse pronto para fazer, para começar a de repente colocar um vocal limpo, colocar referência de musica brasileira na musica, isso o Red Eyes veio para dizer que agora a banda trabalha dessa maneira. O público tem recebido o disco de uma maneira incrível e é legal porque não é o mesmo publico, não é só o publico que ouve o No Peace, a gente alcançou outras pessoas que antes não curtiam e agora curtem. Acho que é o que todo mundo quer alcançar, mais pessoas com a sua arte de fato.  As fontes de inspiração o disco, na verdade é um disco um pouco conceitual fala sobre o homem como inimigo de si mesmo e as musicas trabalham em temas como  questões psicológicas e medo do desconhecido, a questão que a gente vive hoje esse grande big brothers que é a rede social. As musicas caminham dentro desses temas que são temas atuais que a gente vive full time na nossa vida, não é nada historia de lenda, de demônio, de deus, a gente trata de temas bem reais. Esse disco de fato e muito importante para gente, ele representa uma mudança super positiva.

EC - Em julho vocês lançamento o clipe do single "Red Eyes". Vocês quebraram paradigmas do meio death/thrash metal gravando o clipe em uma praia. Porque dessa escolha? Como foi o processo de gravação?
Renan: A escolha de fazer o clipe numa praia foi realmente para mudar um pouco esse paradigma, você  mesmo fala quebrar essa questão do trhash / death, essa coisa do metal do bruto. A gente se reuniu e trouxemos algumas ideias. Pensamos em fazer em inúmeras locações mas batermos o martelo que ia ser na praia. Se você pegar a letra, a gente conta a historia de uma sociedade em que viviam-se somente durante o dia . Os caras nunca tinham visto a noite na vida então descobre-se que vai haver o eclipse e as pessoas entram em desespero, porque realmente nunca viveram aquilo. Então fizemos esse contraponto, com o medo do desconhecido e a Red Eyes fala disso.  A gente escolheu usar a praia para ficar o mais natural possível e mais fora desses "padrões metalícos" que a gente viu durante sei la, 30 anos por ai. Eu sempre quis deixar a coisa livre para vários tipos de interpretação e essa musica realmente pegar a letra pra ler e sobre isso, não tenha medo do desconhecido. As vezes a gente cria uma tempestade dentro de um copo d'água e vai acontecer e as coisas vão seguir normalmente seu fluxo, e basicamente essa a ideia da música.

EC - Vocês agora vão entrar em uma longa turnê de divulgação do álbum "Red Eyes", passando por vinte  cidades ao longo do Brasil, ao lado do Torture Squad, Reckoning Hour e Warcursed. Como surgiu a ideia de fazerem esse formato de turnê? E a parceria com essas bandas?
Renan: A gente acabou de voltar na verdade e foi uma das experiências mas incríveis  que eu pude viver na minha vida. Se pensar, 30 dias dentro de um ônibus com 21 pessoas e realmente meio enlouquecedor. A  gente vivia ali um Big Brother, mas nossa foi incrível, foram dias incríveis. Tiveram alguns show que não haviam tanta estrutura, o lugar era pequeno, mas a energia da galera era tão grande que tornou a coisa realmente como deveria ser. A troca de energia do público foi incrível e a gente venceu todo tipo de situação possível. O mais legal foi que a gente selou a nossa amizade com a  Torture Squad, de fato, é uma banda que  os caras sempre foram nossos camaradas e agora mais ainda,  eu  como fã da banda, headbanger, apreciador da musica que os cara fazem foi uma honra, o mesmo posso dizer do Reckoning Hour e Warcursed que são bandas incríveis também. Claro que tiveram desentendimentos ao longo do caminho mas o mais legal e que a gente soube contornar tudo isso, e tudo mundo em prol de uma coisa muito maior que o ego, que é a musica. Fazer a coisa acontecer, isso foi muito bacana a gente realmente se voltcoltamos relamente muito felizes. Perrengue é normal,  teve dia que a gente não tomou banho, as vezes é ruim para comer,  várias situações que eu acho que toda banda deveria passar, porém, eu sei que nem toda banda está pronta para isso, porque, é  difícil é puxado, mas nos da Hatefulmurder, ao menos,  conseguimos sair numa boa, saímos vivos e eu acho que e as outras bandas também, todo mundo firme. É isso ai cara, quanto mais você vive situações difíceis mais você se torna forte. O que não te mata, te torna maior, de fato. E foi do caralho, a troca de energia com o público, cada dia era uma cidade, um estado, aprendemos muito nesse rolê foi muito importante. Que venham mais e que se tornem uma constante no nosso país shows de segunda à segunda. Tocamos em uma segunda-feia em Vitoria da Conquista,  Bahia, a galera foi, a casa tava lotada de gente, é uma questão da gente continuar batendo nessa tecla até a coisa se tornar uma coisa comum. 

Membros das bandas Hatefulmurder, Torture Squad, Reckoning Hour e Warcursed durante a turnê em conjunto (foto: divulgação facebook)

EC - Em setembro o Hatefulmuder regressa a Minas Gerais para o 16° Rising Metal Fest, na cidade de Conselheiro Lafaiete. Quais as expectativas de voltar a tocar em MG, principalmente sendo o headliner do festival?
Renan: Vai ser incrível! A gente está muito ansioso, devido a experiências incríveis que a gente  teve tocando em Conselheiro Lafaiete. Acho que será a quarta vez que a gente tocará lá e todas as outras vezes a energia da galera do evento,  sempre foi muito positiva, muito boa para a banda. A gente ta muito amarradão e, espero que a galera compareça em peso e quebre a casa com a gente.

EC - O Hatefulmuder foi a primeira banda anunciada no retorno do festival Viçosa Metal Fest que acontece, na cidade de Viçosa no interior de MG, em outubro desde ano. Quais as perspectivas de tocarem no festival tão tradicional na região que volta a acontecer três anos depois da sua última edição?
Renan - Pela primeira vez a gente estará se apresentando em Viçosa, vai ser muito legal fazer o retorno do Viçosa Metal Fest. A gente já conhecia o evento de nome, alguns amigos nossos já tocaram e  todos os comentários sempre foram muito bons com relação ao evento e a cidade. A galera é bem metal por ai mesmo.  Algumas pessoas já entraram em contato com a gente  falando que estão na expectativa, então estamos ansiosos, vai ser muito legal retornar a Minas Gerais

EC- Novamente gostaria de agradecer por terem aceitado realizar a entrevista para o Elegia e Canto. Vocês poderiam deixar uma mensagem para os nossos leitores?
Renan - Eu quer agradecer a todos  do Elegia e Canto pelo espaço, mais uma vez obrigado por darem essa oportunidade para a gente. Obrigado por prestarem esse serviço à musica alternativa independente, no nosso  país é muito importante que tenha , iniciativas como essa . Quero mandar um abração para todos que acompanham a gente, a galera toda que manda mensagem, que cola nos shows, vocês são o ingrediente principal de tudo isso, sem essa energia que a galera troca  não ia existiria nada. Muito obrigado a todos vocês e a gente se vê na estrada.

Confira o clipe de Red Eyes:

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