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20/05/2017

ENTREVISTA: Arandu Arakuaa (Brasil)

A valorização da cultura indígena através da música 



Zândhio Aquino fundador da banda brasiliense Arandu Arakuaa, conhecida por misturar elementos da cultura e história indigena ao heavy metal. Ele recentemente concedeu uma entrevista ao Elegia e Canto, contando um pouco a história da banda e as mudanças para esse ano de 2017. 

A atuação formação do Arandu Arakaa é composta por :Karine Aguiar (Vocais/Percussão), Zândhio Aquino (Guitarra/Viola Caipira/Vocais/Instrumentos Indígenas),Ygor Saunier (Bateria/Percussão), Saulo Lucena (Contrabaixo/Vocais/Maracá), Pablo Vilela (Guitarra/Vocais/Maracá)

EC - Primeiramente gostaria de agradecer por conceder a entrevista ao Elegia e Canto. Como surgiu a ideia de formar a banda?
Zândhio- Nós que agradecemos pelo espaço cedido. Nasci e cresci perto de comunidades indígenas no estado do Tocantins, também sou descendente por parte da família paterna. Desde cedo tenho identificação e compromisso em dar minha contribuição para exaltar e divulgar as culturas e lutas dos Povos Indígenas do Brasil. Minhas escolhas pessoas e profissionais sempre tiveram uma ligação estreita com os Povos Originários dessa terra.
Como a melhor forma de um artista contribuir para aquilo que acredita é através da sua arte, com o tempo foi natural tentar externar tudo isso em forma de música. A banda começou em 2008 aqui na periferia de Brasília, mas só no início de 2011 conseguimos ter uma formação estável, e desde então estamos seguindo nossa jornada.

EC - Além do uso de instrumentos tradicionais da cultura indígena, a banda canta em Tupi, Xavante e Xerente. Porque a escolha de cantar as músicas nesses idiomas? E quais as dificuldades de compor dessa forma?
Zândhio- As escolhas iniciais por esses idiomas foi por questão de afinidade com as culturas desses povos. A ideia daqui pra frente é compor algumas letras com participação de amigos indígenas de diferentes povos, justamente pra divulgar e mostrar também um pouco da diversidade de idiomas indígenas.
Talvez a maior dificuldade é por serem línguas orais e a maioria delas não ter uma gramática.

EC - Entretanto, a música "Povo Vermelho", presente no segundo álbum o "Wdê Nnãkrda" (2015), é cantada em português. Porque essa escolha? A banda pretende compor mais músicas em português nos próximos álbuns?
Zândhio- Creio que eu tinha muito a dizer quando comecei a compor essa música, ela tinha tipo uns nove minutos e toda essa letra enorme. Depois damos uma enxugada, que essa porra não é o Dream Theater haha. Nos projetos anteriores ao Arandu Arakuaa eu compunha em português, e parecia divertido voltar a fazer essas letras gigantes. O mais legal é que as pessoas realmente amam essa música e não descartamos a possibilidade de escrever outras letras em português ou mesmo mesclar com idiomas indígenas.

EC - Nesse ano a banda mudou sua formação. E uma das principais mudanças foi a saída da vocalista Nájila Cristina. Como foi a escolha da Karine Aguiar para participar da banda e haverá alguma mudança na sonoridade das músicas com a entrada nos novos integrantes?
Zândhio- Na verdade a vocalista e o baterista saíram ainda no segundo semestre de 2016, os dois permaneceram na banda por quase seis anos e sou muito grato a eles por tudo que construímos juntos. O lance com a Karine foi bem ao estilo Rock N’ Roll, comentei que tínhamos três shows agendados e a banda só tinha um guitarrista e um baixista, daí ela falou: “se tu quiseres seguro a bronca no vocal”. Eu não seria retardado o suficiente pra dizer não haha. Com Ygor e Pablo foi na mesma vibe, sem essa de testes ou conversa burocrática, já nos admirávamos como músicos e tínhamos afinidades no campo das ideias.
Sobre mudanças na sonoridade sempre tem a cada lançamento, mesmo que seja com a mesma formação. Claro com a entrada de três novos integrantes tem muito a ser acrescentado no campo musical, mas a identidade permanecerá e manteremos todos os elementos. Até porque os integrantes que saíram não participavam do processo de composição.
Karine é uma vocalista muito versátil, Saulo está fazendo os vocais guturais e também canta limpo, Pablo canta limpo e gutural, além de ser um guitarrista virtuoso, meu vocal mais puxado para o cântico xamânico sempre foi uma característica importante da banda também. Então, só nos vocais teremos muitas opções de combinação, claro Karine é a vocalista principal. Ygor tem muito o que acrescentar, visto que é um baterista virtuoso e também especialista em ritmos amazônicos. Estamos ansiosos pra trabalhar em músicas novas e saber a opinião do público. 

EC - Então, agora com a nova formação a banda já está trabalhando em um novo álbum? Poderia adiantar alguma novidade?
Zândhio- Temos bastante material a ser trabalhado, no entanto, a mudança de formação e a falta de recursos pra produzir um disco novo atrasou um pouco nossos planos. Estamos trabalhando para entrarmos em estúdio no final de 2017 e lançar nosso terceiro full album ainda no primeiro semestre de 2018. Até lá iremos fazer todos os shows possíveis e tentar recompensar nossos apoiadores, visto que pouco nos apresentamos após o lançamento do Wdê Nnãkrda. Seria um crime não ter tour de divulgação desse disco.

EC - A sonoridade do Arandu é realmente única. Com a união, do peso do metal os guturais em conjunto dos instrumentos tradicionais da cultura indígena. O que influenciou vocês para formação dessa sonoridade, tanto dentro e fora do meio do metal? 
Zândhio- A banda começou como uma necessidade de me expressar criativamente, visto que nas minhas ideias musicais sempre apareciam toda essa mistura de heavy metal, música regional brasileira e música indígena. Depois a galera que entrou na banda trouxeram suas influências e nosso som foi ganhando forma. Hoje estamos muito felizes em ter reconhecimento fazendo esse tipo de música tão diversificada e nada comercial. A nível pessoal também me sinto confortável em tocar guitarra, viola caipira, instrumentos indígenas e cantar como um curandeiro. É basicamente o resumo de quem eu sou.

EC -  Nos últimos anos temos vistos várias bandas pelo mundo que resgatam a sua história e cultura através da música, sendo muitas delas classificadas como bandas de folk metal. Nesse sentido vocês se sentem parte desse seguimento do metal aqui no Brasil?
Zândhio- A nível pessoal tenho problemas com rótulos, acho cafona e mercadológico. Tentam restringir sua arte e vendê-la a um público em específico. O que fazemos é justamente o contrário dessa ideia mercadológica, escrevemos nossa música e a divulgamos de forma que qualquer pessoa possa se identificar e tomá-la para si. E sim respeitamos muito as bandas que se intitulam como Folk Metal, pelo compromisso que têm em falar sobre as manifestações culturais de seus povos.

EC - Recentemente várias bandas nacionais, tem buscado a valorização da história do Brasil em suas músicas, seja no seu instrumental ou nas letras. Tendo como um dos resultados, o Festival BR Metal em São Paulo em abril desse ano, com a presença do Arandu. Nesse sentido, para vocês qual é a importância do surgimento dessa onda de bandas que valorizam o Brasil?
Zândhio- Pra nós isso é de suma importância, essa sempre foi a nossa bandeira. Na real nem existe essa tal onda, poucas bandas estão indo nessa direção. O que acontece é que a maioria dessas bandas estão realmente fazendo um grande trabalho e tendo seu merecido reconhecimento. Nós do Arandu Arakuaa sempre tivemos espaço, inclusive nas consideradas grandes mídias onde até mesmo os medalhões do Metal raramente conseguem. Contamos também com um público que entende e apoia nossa proposta artística. Talvez algumas bandas vendo isso se inspirem a trilhar um caminho parecido, e realmente espero que façam isso pelas razões certas. Fazer apenas pra vender a imagem de exótico é um belo tiro no pé e pode atrair um público que não tem qualquer identificação e apenas estão indo na onda por motivos fúteis.

EC - No dia 22 de julho a banda vai realizar a sua primeira apresentação em Minas Gerais no Tribus Festival Brasil 2017. Festival multicultural que acontecerá em Carangola, em formato Open Air aproximando assim o público e as bandas a natureza. Qual a expectativa para o show? O que o público do festival pode esperar pela apresentação da banda?
Zândhio- Estamos muito ansiosos para esse grande dia! O produtor Jozilei Costa e toda a equipe tem feito um grande trabalho, isso mostra que planejamento e compromisso faz a diferença. O conceito do Tribus Festival Brasil estar totalmente alinhando a nossa proposta, será uma grande celebração do Metal, da natureza, da cultura indígena e brasileira.

EC - Novamente muito obrigada pela entrevista. Você poderia deixar alguma mensagem para os leitores do Elegia e Canto?
Zândhio- Agradecemos imensamente ao Elegia e Canto pelo espaço cedido, foi um prazer responder a perguntas tão bem formuladas! Nosso agradecimento também ao leitores e apoiadores. Nos vemos na estrada!!!   



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