25/07/2017

BANDA: Menhir - Hildebrandslied: a epítome do Pagan Metal

Membros: Fix (guitarra), Heiko (vocais e guitarra), Fritze (baixo), Christian (teclado) e Sebastian (bateria) - (formação do disco)
Gênero: Pagan Black Metal
Ano
: 2007

País: Alemanha

É impossível falar sobre Menhir sem envolver história e mito. A banda, formada em 1995, é natural da Turíngia, na Alemanha e suas composições prestam tributo a um longínquo passado daquela região, palco de feitos heroicos e grandes batalhas que inspiraram lendas e poemas. A dedicação do grupo em manter vivas as memórias culturais e históricas do seu povo e de sua terra natal é uma constante em sua obra e vale citar um dos seus álbuns anteriores, lançado em 1999, cuja homenagem está presente já no título: Thuringia.
O nome "menhir" (em português, "menir") origina-se da língua bretã e significa "pedra longa". O termo refere-se a um tipo de monólito pré-histórico cuja presença distribui-se por várias partes do mundo, mas com notável abundância no leste europeu, onde existem aos milhares. Trata-se, como o nome sugere, de monumentos de forma alongada, talhados em pedra e encrustados verticalmente no solo. Seja solitários ou em conjunto, eles variam bastante em tamanho, podendo inclusive alcançar vários metros de altura e pesar toneladas. O real propósito dessas edificações permanece alvo de discussão entre especialistas e varia de acordo com a cultura em questão, mas é dito que atribuía-se a elas funções como marcar locais onde sucederam eventos importantes, honrar divindades locais, delimitar territórios, estabelecer locais de culto religioso ou até mesmo servir como calendário. Embora pré-históricos em sua origem, a prática de erigir menires estendeu-se até alguns séculos atrás. Os escandinavos, como os vikings por exemplo, tinham por hábito erguer esses monumentos e marcá-los com runas, como uma espécie de memorial aos mortos. A banda, ao nomear-se a partir desses objetos, ao meu ver, exerce apenas mais uma demonstração de senso de pertencimento à terra, uma forma de se lembrar de seus antepassados. 

O Menir de Kerloas, na França

Em se tratando de música, o primeiro fator excepcional a respeito de Menhir, além de toda essa bagagem que carregam já no nome, está no profundo esmero das composições. Começa pelo fato de suas letras (com algumas exceções) serem escritas em alto-alemão antigo, o que lhes fornece um quê de antiguidade que coaduna com a proposta temática a que se dedicam. Os versos são escritos de forma que soam como poesia cantada e são muito valorizados pela estrutura melódica das canções. A produção de seus álbuns é de uma certa crueza e apesar de ser tanto uma convenção estilística, quanto uma limitação orçamentária, essa característica dá maior consistência à atmosfera 'mitológica' e 'arcaica' que os permeia e que certamente seria prejudicada caso os instrumentos fossem gravados com maior fidelidade. 

Não bastasse a beleza tocante das melodias, este Hildebrandslied ainda traz em seu escopo a presença pontual de um violino, manejado com maestria pelo músico convidado Olaf Wald, aparecendo em momentos mega oportunos e de forma muito bem pensada, jamais soando como muleta, mas como um ingrediente orgânico e funcional dentro da concepção do disco. Outro ponto fortíssimo está na voz indubitavelmente épica do vocalista Heiko Gerull, que concebe um gutural bastante competente, mas se sobressai mesmo no canto limpo, bastante presente em toda a obra. Quando "Das Alte Lied des Windes" abre a audição e ouvimos pela primeira vez o seu timbre grave, potente e reverberante, é como se o próprio Odin estivesse cantando e logo fica evidente que será impossível resistir aos encantos do disco. Quando se dá conta, já se está completamente absorto nele. E não tenha dúvida: Hildebrandslied proporciona uma audição altamente imersiva. 

Da esquerda para a direita: Fix, Jen (teclado), Heiko, Fritze, Stephan Gauger (bateria) - (formação de 2010-2014)

A próxima faixa, "Des Kriegers Gesicht - Ulfhednar" começa com lobos uivando e desenvolve um instrumental que leva a imaginação até gélidas paisagens montanhosas e cenas de batalha dignas das antigas sagas nórdicas. A essa altura, parece que nada do que viesse depois poderia soar tão épico como essas duas faixas iniciais, mas este é um ledo engano, pois a partir dali as coisas ficam ainda melhores.

Afinal, o disco atinge seu ponto máximo com a entrada das faixas-título. Mas antes de falar sobre a parte musical, vale abrir um parágrafo sobre o que elas querem contar. Hildebrandslied (em português, "A Canção de Hildebrand"), faz referência a um poema épico de mesmo nome datado aproximadamente do século IX de nossa Era e uma das mais antigas obras literárias em língua alemã conhecidas. Ele narra o trágico embate de Hildebrand (um personagem importante do folclore germânico e que também aparece em outras histórias) contra seu filho, Hadubrand, que o desafiou sem saber que se tratava do próprio pai. A obra explica que ambos se separaram quando Hadubrand ainda era um bebê, em uma ocasião em que Hildebrand, o maioral dos guerreiros a serviço de Teodorico, o Grande, Rei dos Ostrogodos, se viu obrigado a fugir da perseguição de Odoacro, Rei da Itália e parte em direção ao oriente, abandonando esposa e filho. Quando Hildebrand e Hadubrand se reencontram no campo de batalha, o pai descobre que aquele que o enfrentava era seu filho e tenta persuadi-lo a desistir da luta, oferecendo-lhe os braceletes de ouro que ganhara do próprio Átila, Rei dos Hunos (passagem esta que está retratada na famosa saga dos Nibelungos). Hadubrand, no entanto, nega a oferta e o acusa de tentar ludibriá-lo para que baixasse a guarda. Vendo que não seria capaz de firmar um acordo de paz ou evitar o combate de forma honrosa, Hildebrand acaba forçado a batalhar contra o próprio filho. O final do texto infelizmente se perdeu e suas últimas linhas conhecidas dão conta de que eles duelaram, terminando com ambos os escudos partidos, embora não dando qualquer pista sobre o destino final dos personagens.


O vocalista Heiko Gerull à esquerda

A porção do disco dedicada a musicar essa antiga história é provavelmente uma das mais belas peças musicais já compostas por uma banda de Metal. Abre com uma "Intro" instrumental em que o violino passeia por um leito formado de uma base acústica de violão, um teclado e um tambor marcando o ritmo. "Hildebrandslied, Teil I", começa com guitarras solitárias, mas logo toda a banda entra em cena, conduzida pelo dueto violino-teclado. A voz retumbante de Heiko soa como a de um menestrel, enquanto ele imprime emoção e poder a cada verso, transportando o ouvinte a um tempo em que o som do brandir e do tilintar de espadas era a mais comum das sinfonias. A canção alterna entre momentos semiacústicos e outros em que toda a banda está trabalhando. Em seu ponto mais épico, há um som de batalha que explode e dá o mote para um memorável solo de guitarra. Já em "Hildebrandslied, Teil II", uma canção inteiramente acústica, nosso exímio vocalista dá vida a uma melodia triste e lamentosa. Quando ela sobe, nada de guitarras distorcidas e sim um tambor, um chocalho e vozes em coral que, em conjunto, remetem a algo que ouviríamos de grupos como Wardruna


Em seguida, temos a ótima "Dein Ahn" e o disco conclui com a majestosa "Weit in der Ferne", que destaco como um de meus encerramentos de disco favoritos; uma canção de fato irretocável. Hildebrandslied é uma audição um tanto curta (apenas 41 minutos), mas imponente, épica e que deixa um gostinho de quero mais. Não considero exagero afirmar que esses músicos conceberam uma obra infalível na forma desse disco e é realmente uma lástima que sejam pouco (re)conhecidos. 

Estamos em 2017 e esta obra-prima completou 10 anos no último dia 22 de abril. A banda é presumida como ativa, apesar de, em sua página oficial do Facebook, não ter postado absolutamente nada desde 2014. Sua última publicação, inclusive, sugeria que um novo álbum estava em vias de produção. Alguns de seus membros, no entanto, não permaneceram parados esse tempo todo. Quem for ávido por mais materiais desses caras, convém dar uma olhada na banda Odroerir, formada por alguns dos membros do Menhir (O guitarrista Fix é quem assume os vocais por lá) e que lançou um novo álbum esse ano, além de contar com outros três full lenghts em sua discografia. Vai que o Menhir também se anima e decide lançar esse novo disco logo, não é? Bom, não passa pela minha cabeça a menor ideia do que pode ter acontecido de 2014 pra cá, mas espero que, se Odin permitir, eu esteja vivo para ouvir mais dessa banda e de todo o potencial que ela encerra. 

Faixas: 
1. Das Alte Lied des Windes
2. Das Kriegers Gesicht - Ulfhednar
3. Intro
4. Hildebrandslied, Teil I
5. Hildebrandslied, Teil II
6. Dein Ahn
7. Weit in der Ferne 

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