07/08/2017

RESENHA: Tribus Festival Brasil 2017

O maior festival multicultural da cena underground da Zona da Mata Mineira


No dia 22 de julho aconteceu em Carangola/MG o maior festival multicultural da cena underground da Zona da Mata mineira, o Tribus Festival Brasil 2017. O evento contou com diversas atrações que agitaram a tarde/noite do público presente na Granja Regina, em Carangola. Com o lema “Música, Arte, Cultura, Sustentabilidade”, o Tribus se destacou não apenas pelas apresentações das onze bandas do line-up, mas também pela vivência cultural com exposição de arte, varal de poesias, artesanato (hippie, indígena e viking), comidas típicas com opções veganas, fogueira folk com vivência xamânica, pau de sebo vegan, rolezinho viking a cavalo, grupo de capoeira e a tenda gótica com DJ nos intervalos das bandas. Atração não faltou no Tribus! E nós do Elegia e Canto estivemos presentes para registrar tudo. 

Abrindo os trabalhos musicais, a banda nativa Umano`ID (Carangola/MG) trouxe a mistura do rap e do rock, e até mesmo de reggae, com melodia experimental e músicas autorais dedicadas. Alguns empecilhos técnicos não foram problema e eles mostraram para o que vieram, surpreendendo a galera ao mandar o rap autoral “Lutamos por nois”, em cima da base de violão de “Stairway to heaven”, do lendário Led Zeppelin. 

A próxima banda foi a White Death (Bom Jesus do Norte/ES), de heavy metal/hard rock, que chegou com uma presença de palco incrível, vocal feminino poderoso da vocalista Priscyla Moreno e instrumental de peso que agradaram a galera. Destaque para a música autoral “Red Star”, do primeiro EP, “Reaper of Corruption”. Ainda mandaram covers do mestre Dio e da banda Helloween, que movimentaram a galera naquele final de tarde. 

Em seguida com uma intro de faroeste, a Ravengar (Cachoeiro de Itapemirim/ES) já apareceu chamando a galera para frente, e quem foi teve o prazer de ver um showzão de punk rock. Músicas do EP intitulado “We Are Crazy” e covers atearam fogo na galera, e os primeiros mosh pits do evento aconteceram. Destaque para o vocalista Marcelo Capilé, que incitou o público até o fim. Rolou ainda uma bela homenagem às grandes bandas de punk rock, numa sequência de clássicos do Sex Pistols, Bad Religion, Offspring e Ramones. 

Dando continuidade, a banda de hardcore Os Capiau (Ipatinga/MG) veio com uma energia destruidora, mosh atrás de mosh da galera. Músicas rápidas com riffs acelerados e ótima harmonia dos vocais marcaram presença, além das músicas autorais de cunho questionador e revolucionário, palavras de protesto e muita agressividade sonora, que singularizaram a apresentação. 

A próxima atração foi o grupo de Capoeira Camaradagem, na Roda das Tribos. E foi lindo de se ver! Algo tão distante de pensarmos em presenciar em um evento de metal, e lá estavam eles. O Tribus Festival é, acima de tudo, inclusivo. Muito bacana ver até uma criança mandando ver ao som do berimbau, de encher os olhos. 

Seguindo, a próxima banda a se apresentar foi a Persecuter (Rio das Ostras/RJ), de thrash metal, mas é daqueles thrash clássico, raiz. Muito peso e bateria a mil empolgaram a galera do início ao fim. Destaque para o som “Perfect Life”, do primeiro EP, de mesmo nome da banda, que neste ano lançou também um CD intitulado “The Hatred Domains”. 

Desacelerando um pouco no peso e entrando num clima mais rock’n roll, a banda Attività Power Trio (Varre-Sai/RJ) se apresentou com músicas autorais cantadas no bom e velho português, com composições leves, porém empolgantes, e com aquela pegada do blues do álbum “Nos caminhos da noite”. Algumas dificuldades técnicas não atrapalharam. O grupo é bem entrosado e agradou.

A próxima atração foi a dupla do Test (São Paulo/SP), que fez o show mais icônico de todo o festival. Sim, uma dupla! Bateria, guitarra e vocal que se fundiram e nos presentearam com um grindcore sem igual. Cada virada sonora (e tiveram muitas) era uma surpresa. A bateria é o coração da banda e dava pra sentir no peito as pancadas! Poucas vezes vi algo parecido. A intensidade foi tanta que parte da bateria se desmoronou, mas pra quem pensava que o batera Barata iria parar o som se enganou. Ele continuou tocando com o que sobrou da bateria e protagonizou a cena mais foda do evento e foi ovacionado por isso. O público foi à loucura! Sucesso total, virei fã. 

Em sequência veio a tão aguardada Torture Squad (São Paulo/SP) para espantar o frio de começo da madrugada com muito poder e pancadaria! A galera chegou em peso pra curtir e viu um showzaço. A tradicional banda de death/thrash metal não decepcionou. Performáticos e com uma presença de palco incrível da vocalista Mayara Puertas. Eles tocaram não só as músicas do seu mais novo álbum, “Far Beyond Existence”, como também o som mais antigo de sua longa carreira de sucesso. Apresentação animal dessa grande banda nacional! 

Novamente teve sua vez uma experiência fora do comum em festivais. Deu-se início o ritual para acender a fogueira. E já não víamos a hora para isso acontecer, pois o frio já estava de bater os dentes. E dessa vez a fogueira viking teve vivência xamânica. Uma índia fez um ritual para a fogueira, já antecipando o que viria por aí... a esperada Arandu Arakuaa. 

Segurando o público ansioso até o final, a Arandu Arakuaa (Taguatinga/DF), pela primeira vez em Minas Gerias, finalmente subiu ao palco para a felicidade dos presentes. A musicalidade da banda mescla heavy metal com música indígena e regional brasileira, com letras nos idiomas indígenas Tupi, Xerente e Xavante, inspiradas nas lendas, ritos e lutas dos povos indígenas do Brasil. Diferente de tudo que já vi, foi um show com energia diferenciada e harmonias vocais lindas, fazendo gritar o orgulho que temos dos nossos antepassados indígenas. Povo este por quem a banda luta, frases de manifesto pela demarcação de terras indígenas no Brasil e homenagem aos amigos da banda que faleceram este ano foram momentos marcantes da apresentação. Foi sensacional, e nem a microfonia ocasional atrapalhou. Espero que voltem mais vezes à nossa Minas Gerais. 

E para fechar bem o evento a banda Dsnort (Leopoldina/MG) trouxe uma mistura de punk, ska, indie e funk, que culminou num som gostoso e descontraído para se ouvir. Destaque para os metais da banda.

O evento contaria também com apresentação da banda Galwem (folk rock/rock rural) e até o momento não sabemos informar a razão de não terem se apresentado. 

Fechando as impressões, foi um festival único! Desde a proposta multicultural e sustentável até a sua realização, o evento se sobressai. A diversidade de atrações, além da própria diversidade de gêneros musicais entre as bandas, foi muito bem pensada. Lembrando também da tenda gótica que conferi de perto, e foi muito divertida. Tudo para agradar a gregos e troianos, não faltou coisa para fazer. E isso resultou nessa escritora banger aqui exausta ao final do evento. Faço uma ressalva aqui quanto ao atraso para o começo das bandas. Como foi um evento com muitas bandas, esse atraso inicial prejudicou no final, quando já quase não encontrávamos mais energia pra curtir tudo aquilo que nos foi maravilhosamente apresentado. Para uma próxima edição, sugerimos mais atenção a esse detalhe. No mais, o Tribus Festival se consagrou, mais um ano, como o maior (e melhor) festival underground da Zona da Mata mineira. E é uma sensação muito boa poder contar com um festival desse tipo na nossa região, que carece tanto de eventos assim. Queremos parabenizar o produtor Jozilei Pimenta Costa pela inciativa e incrível evento produzido e agradecer pela atenção que deu a nós do Elegia e Canto. Precisamos de mais pessoas como você na cena mineira! Já estamos aguardando ansiosamente a próxima edição.



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