15/01/2018
ENTREVISTA: Luxúria de Lillith (Brasil)
A entrevista desta semana é com a Horda goiana Luxúria de Lillith, que atualmente é formada por Arkana (baixo e vocal) e Drakkar (bateria e vocal). Tivemos a oportunidade de realizar uma entrevista exclusiva com o fundador e idealizador da Horda Drakkar, onde ele fala um pouco do inicio da banda, como é ter uma banda de black metal no Brasil, a turnê europeia e muito mais! Confiram a seguir:
EC - Primeiramente
gostaria de lhe agradecer Drakkar por aceitar realizar a entrevista para o
Elegia e Canto. Bem em 2018, o Luxúria de Lillith irá completar 20 anos de estrada.
Como surgiu a ideia de formar a banda?
Drakkar – Salve Daniela! Sim, é
com grande honra que respondo a este chamado do Elegia e Canto. Neste ano de
2018 a banda completa seus vinte anos de Luxúria e Metal Negro. A ideia surgiu
quando havia decidido criar meu projeto pessoal, uma banda de um único
integrante, e talvez nem fizesse shows, mas, as pessoas que ouviam as músicas
gostavam e me pediam shows então, tive que começar a procurar pessoas que se
identificassem com aquele som. Antes disto, eu já havia formado outras bandas
de black e death Metal e já havia tocado em alguns shows, com poucos recursos,
não prossegui os projetos anteriores. Então, as primeiras composições surgiram,
escrevendo letras em português e uma música mais progressiva e sombria. Sempre
registrava os ensaios, os registros mais crus e primitivos. Até que em
2005 consegui lançar o primeiro álbum
oficial ‘A Volúpia Infernal’ pela Zenor Records e mais tarde pela Impaled
Records e outros 12 selos, totalizando 6 edições publicadas até o presente
momento. Durante estes anos, tive a oportunidade de tocar com diversos músicos
que deram suporte para registros e espetáculos. Assim, a banda passou por 7
formações, o que chamo de ‘dinastia’, estamos na sétima dinastia da banda, com
Arkana baixo/vocal e Drakkar na bateria/vocal.
EC - Diferentemente de muitas bandas nacionais que tendem a fazer músicas
em inglês, você compõe as músicas do Luxúria de Lillith em português. Porque a
escolha de cantar com o nosso idioma? E como é conciliar a função de ser o
vocal principal da banda, tocando bateria ao vivo?
Drakkar – Tudo aconteceu naturalmente, também gosto de cantar em inglês, mas, Luxúria de Lillith se consolidou em português. Atualmente estou gravando outras línguas em meus trabalhos, sem abandonar a forma de expressar as músicas, e não causar um certo estranhamento entre os fãs mais tradicionais. Tocar bateria surgiu como necessidade, ausência de músicos, bateristas velozes, ou, que soubessem tocar minhas composições de forma aceitável. Faltam bateristas na região goianiense, poucos são os bateristas de metal extremo, e estes, poucos preparados para longas estradas. Então, para não abandonar os palcos, foi necessário assumir a bateria e a voz principal. Algo diferente das apresentações que estava acontecendo nos eventos, despertando uma certa curiosidade no público. Assim, criar, conciliar e executar músicas, começou a fazer parte da minha rotina diária. Temos interesse de contratar um baterista de black metal para ampliar os espetáculos da banda e minha própria performance, mas isto, fica sem resposta no momento e me mantenho na bateria/vocal.
Drakkar – Tudo aconteceu naturalmente, também gosto de cantar em inglês, mas, Luxúria de Lillith se consolidou em português. Atualmente estou gravando outras línguas em meus trabalhos, sem abandonar a forma de expressar as músicas, e não causar um certo estranhamento entre os fãs mais tradicionais. Tocar bateria surgiu como necessidade, ausência de músicos, bateristas velozes, ou, que soubessem tocar minhas composições de forma aceitável. Faltam bateristas na região goianiense, poucos são os bateristas de metal extremo, e estes, poucos preparados para longas estradas. Então, para não abandonar os palcos, foi necessário assumir a bateria e a voz principal. Algo diferente das apresentações que estava acontecendo nos eventos, despertando uma certa curiosidade no público. Assim, criar, conciliar e executar músicas, começou a fazer parte da minha rotina diária. Temos interesse de contratar um baterista de black metal para ampliar os espetáculos da banda e minha própria performance, mas isto, fica sem resposta no momento e me mantenho na bateria/vocal.
EC - Luxúria de
Lillith se apresenta como uma banda de Black Metal, mas, percebemos muitas nuances
em sua sonoridade ao longo da discografia de vocês, quais são as suas
principais influências?
Drakkar – O black metal está nas bases da identidade da Luxúria de Lillith,
resgatando inúmeras referências sonoras, e principalmente na música sombria.
Neste universo headbanger de estilos aceitáveis de metal, como: heavy, speed,
thrash, death, splatter, grind, gore e claramente o black metal, construir
músicas voltadas as estas vertentes, nos permitiu caminhar entre elas, e para
mim, mais impulso para ampliar o número de composições e novas produções. Os
discos foram sendo melhorados a cada ano, passando por bons e maus resultados,
mas, como toda banda, sempre trazendo algo novo para a sonoridade.
EC – Vamos agora falarmos um pouco sobre as
temáticas trabalhadas nas músicas do Luxúria de Lillith. Percebemos que algumas
canções remetem ao vampirismo, ocultismo e ceticismo. No que você se inspira
para compor?
Drakkar – Nos inspiramos no agora, no momento, no
efeito e na observação. Toda e qualquer tragédia pode ser construída no campo
da arte musical. Nestes largos movimentos, de pensamentos encrustados para
despedaçados, nos acontecimentos mais marcantes, pode-se construir uma nova
teia criativa, por poesias que nascem de sentimentos inversos, ansiedade e
angústias, intervir e procriar novas músicas, principalmente reconhecendo o
erro e vivenciando o erro, até, a alquimia acontecer.
EC – O último álbum
lançado foi o ‘Lilitus’ de 2016. Como foi o processo de criação do álbum? E
para você, como ‘Lilitus’ se diferencia dos antigos trabalhos do Luxúria de
Lillith?
Drakkar – Lilitus foi uma experiência musical realizada
em Osasco SP em alguns dias de estúdio, compondo e registrando, ali, pude tocar
todos os instrumentos do disco, exceto os teclados produzidos por Geovani Maia
do Fantom Studio de Goiânia. Eu sempre gostei de melodias obscuras, então, mãos
a obra. Realmente, esta experiência me trouxe de volta para a criatividade
espontânea e musical, e agora com temas voltadas a antiguidade de Lilith. Eu
precisava voltar a compor com ênfase na estrutura melódica que havia na banda.
Víamos ali, a necessidade de resgatar a identidade do trabalho, mas, agora com
a experiência e mais conhecimento. Retornei para o estúdio com a capa produzida
pelo designer Rafael Tavares, e um
disco então lançado com 6 faixas e 3 intros. A horda realizou uma sequência de
turnês no Brasil e posteriormente na Europa, resultando numa excelente resposta
para a banda e seu público. Lilitus é apenas um começo de uma história sombria
que estou escrevendo. Ainda que embrionário, pude sentir a essência da banda
novamente.
EC - Você e a Yngrid
Arkana, uniram-se para criar o festival Goyattack e posteriormente a ArkDrak
produções. Você poderia falar um pouco do festival e da produtora? E quais as
maiores dificuldades de se trabalhar com o Black Metal no Brasil?
Drakkar – Sim, Drakkar e Arkana uniram-se para criar o
Goyattack Festival, um projeto cultural
para realização de festival de música extrema em Goiânia, e foi realizado em
outubro de 2015. No entanto, a cultura municipal e estadual de nossa região,
nunca mais aprovou nenhum de nossos projetos de música e festivais, alegando em
seus pareceres, que o Metal Extremo não representa a cultura de Goiás.
Infelizmente, é lamentável como o governo interpreta nossa cultura artística,
boicotando projetos de grande relevância sem justificativa. Porém, não
desistimos, continuamos a realizar pequenos eventos nas cavernas, nos pubs, nos
estúdios de ensaios, bares fechados e chácaras. Não deixando as bandas de black
metal da cidade e outras vertentes do metal findarem, e mesmo com recursos
próprios para a realização destes eventos, estamos fazendo na medida do
possível, visto que no Brasil: hoje comemos, amanhã não sabemos. Realizamos em
2008, os dez anos da banda intitulado: ‘10 anos de Luxúria e Metal Negro’ e desde então, dezenas de shows, tanto em
Goiânia, quanto fora do estado com boas parcerias fizemos. Destaco o festival
intitulado ‘Encontro das Artes Negras’ resultando em 6 edições desde 2011, um
festival independente e por iniciativa de amigos que reconhecem nossa luta,
enfatizo Arkana, que sem ela não teria garantido toda a logística das turnês da
banda e produção destes festivais. A última edição do festival, foi realizada
em Osasco SP com 11 hordas de black metal nacional, unindo os subgêneros do
black metal. Sobre as dificuldades, elas estão em toda parte, inicialmente para
lidar com esta sociedade em que vivemos, essa massa alienada e escravizada que
não possui nem tempo para saber o que é metal, cegos pela riqueza material,
evangelização precoce das crianças e a censura nos meios de comunicação. Neste
país não existe respeito aos valores da diversidade cultural, a cena metal no
Brasil é despida a marginalidade, discriminadas e expulsas dos direitos sociais
e econômicos da cultura. Os dogmas da religião e da escravidão capitalista
impõe a xenofobia, o racismo, o machismo e todos estes ismos de preconceito e
discriminação, tornando a massa cada vez mais sonolenta, tenebrosa e escondida
dentro de suas casas ‘prisões’. A imbecilidade comercial de músicas sem
conteúdo impedem os jovens de pensar e questionar. As tecnologias que nos dão
liberdade para o conhecimento e o despertar das coisas, tornaram-se apenas
instrumentos de futilidades, aprisionando jovens e adultos numa lavagem
cerebral, e claro, milhares de propagandas de produtos idiotas. Cada vez mais,
o número de pessoas plastificadas, visando apenas interesses pessoais. Então,
para o senso comum, o metal não tem significado algum e não se encaixa nos
moldes do consumo da maioria da população brasileira. O que nos resta, é
compartilhar entre aqueles que se identificam, um sentido amplo deste estilo de
vida ‘headbanger’. O metal pode ser visto até como ofensa pelos conservadores,
mas, nós que vivemos aqui, somos todos filhos da arte e da música. Para mim, o
metal nos desperta, para que o indivíduo não se torne apenas mais uma abelhinha
do sistema. É como uma selva, os desafios e obstáculos estarão sempre lá, te
esperando!
EC - Atualmente vocês
são uma das principais bandas de Black Metal no Brasil. E acabaram de regressar
de sua primeira turnê europeia, onde passaram por diferentes cidades. Como
surgiu a oportunidade de realizar está turnê? E como foi a experiência de tocar
no exterior?
Drakkar – Em 2017 finalizamos a
turnê do álbum Lilitus de 2015, com dezenas de shows pelo Brasil, em seguida, fomos
contactados pela Ripping Booking Agency
de Berlin, para realização de 10 shows da Luxúria de Lillith com a horda
Imperador Belial do Rio de Janeiro. O giro possibilitou conhecer dez países na
Europa e no caminho conhecemos Marrocos do continente africano. As viagens
estão rotineiras, o que facilita uma boa logística, e pela experiência e
vontade de fazer shows inesquecíveis, levando nossa arte obscura à satisfação
do público headbanger. Tocar na Europa nos deu mais clareza e ampliou nosso
campo de visão para continuar as turnês por lá, mas, a cada passo, um novo
caminho a conhecer, e vamos de acordo com as ondas deste negro mar sombrio!
EC - Em dezembro vocês
se apresentaram no sul do Brasil na segunda edição do festival Maniacs Metal
Meeting, realizada na Fazenda Evaristo, na cidade de Rio Negrinho – Santa
Catarina. Como foi tocar nesse importante festival do metal nacional?
Drakkar – O Festival Maniacs Metal Meeting fechou 2017
com chave de ouro, por se tratar de um festival relacionado a música extrema. O
festival nos trouxe a oportunidade de conhecer a Fazenda Evaristo que se trata
de um local de muita importância para a cena do metal brasileiro. Esta fazenda
já foi palco de grandes nomes da cena metal mundial. O Maniacs em inúmeros
pontos, pode ser espelho para o resto do Brasil, pois, festivais como este,
devem ser valorizados por todos nós. Muitas reclamações eu ouço, queixas e
insatisfação em todas as partes, reclamando da desunião da cena, das disputas
entre as bandas, da falta de shows, da falta de público, e quando alguém toma
iniciativa de fazer, poucos comparecem e valorizam, criticando suas ações, e
por fim, acabam perdendo a oportunidade de estar em um festival desta
magnitude. Então, para nós, participar do Maniacs Metal Meeting 2017 foi um
grande presente. A experiência nos valeu mais impulso para os próximos caminhos
como banda brasileira, além de interagir com grandes nomes do nosso cenário
nacional. Então, deixo aqui, um grande salve aos maníacos do Maniacs Metal Meeting
2017!!!
EC - Quais os planos
para o futuro da banda? Vocês estão preparando um novo álbum, poderiam adiantar
alguma novidade para gente?
Drakkar – No ano de 2016, comecei a produzir um álbum
conceitual intitulado ‘Gehennom’, este álbum trata-se de uma história sombria relacionada
aos mundos paralelos e nossos pesadelos com estes mundos. Quanto a música,
acredito que estamos gravando o disco mais brutal de todos, sua sonoridade
agradará os fãs mais furiosos, enfatizando ainda mais, este sentimento de
trevas que as músicas de Luxúria de Lillith possui. As novas experiências estão
fortalecendo a identidade da horda, possibilitando um disco melhor produzido.
EC - Novamente
gostaria de agradecer-lhe Drakkar, por aceitar realizar a entrevista. Você
poderia deixar uma mensagem para os nossos leitores e seguidores do Luxúria de
Lillith?
Drakkar – Vivam intensamente, prestigiem os shows e
festivais de metal, não se rendam as armadilhas dos dogmas da religião e do
fascismo de nossa sociedade usurpada. Sejam fortes em seus projetos de vida,
realizem e sejam honrados a grande arte, unam homens e mulheres do metal ao
grande festival. O que nos torna mais fortes é viver o que realmente somos. Um
grande salve a toda legião hellbanger do Metal Negro brasileiro! Muito Obrigado
a todos vocês!
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