27/07/2017

ENTREVISTA: Armahda (Brasil)

A história do Brasil contada através do heavy metal

Foto de divulgação da esquerda para direita: Maurício Guimarães (vocais), Renato Domingos (guitarra), Ale Dantas (guitarra), Paulo Chopps (baixo) e João Pires (baterista).
    A banda paulistana Armahda, têm como inspiração de suas composições a história do Brasil. Narrando importantes, e muitas vezes desconhecidos, momentos da história nacional, a banda agrega a temática nacional ao heavy metal lançando o seu primeiro álbum em 2013. A banda também faz parte do movimento "Levante do Metal Nativo", onde bandas de diferentes vertentes do metal, mas com sua temática voltada ao Brasil, juntam forças para divulgarem os seus trabalhos. Convido a todos a conferirem essa super entrevista com os integrantes da banda Armahda.

EC - Primeiramente gostaria de agradecer por terem aceitado realizar a entrevista para o Elegia e Canto. Como surgiu a ideia de formarem o Armahda?
Renato: Surgiu em 2011 mais ou menos. O Maurício me procurou querendo registrar umas ideias que tínhamos desde 2000 ou 2001, mas que na época por diversos fatores não conseguimos levar a diante. Juntamos essas ideias com algumas novas e começamos a pré-produção. O que era pra ser uma demo, se transformou em um EP e no final das costas resultou em um disco.

Maurício: A ideia era criar uma banda com conteúdo interessante, que causasse as emoções que sentimos nos primeiros contatos que tivemos com o metal pesado. Antes, tínhamos bandas que tocavam músicas de outras bandas famosas e isso foi um aprendizado. Decidimos criar o Armahda, para nossa diversão e desafio.

EC - O nome da banda foi inspirada na Revolta da Armada. Mas porque justamente escolheram esse fato histórico como nome da banda? Tem algum significado especial para vocês?
Maurício: A ideia de uma treta entre a marinha e o exército, o mar e a costa, a disputa por um novo poder, o conflito de todos os interesses claros e ocultos, foram pensamentos pesados o suficiente para nos inspirar. Depois que o Renato sugeriu esse nome eu realmente imaginei como seria viver aquele evento no RJ, numa mistura de instabilidade, esperança e medo.

Renato: Tínhamos essa música a respeito da Revolta da Armada de 1893. Gostamos do tema e achamos um nome bem forte.  Então pensamos em colocar o ‘H’ para diferenciar de outros trabalhos eventuais. Aí percebemos que, nessa grafia, Armahda significa ‘tenha misericórdia’ em finlandês. Então decidimos por esse nome.

EC - Quais são as bandas que inspiram vocês na sonoridade da Armahda?
Renato: Pergunta difícil (rs). Acho que é bem amplo: desde bandas hard rock até bandas de black metal.

Ale: Como o Renato mencionou, acho que poderia fazer uma lista aqui com mais de 100 nomes! hahahaha É óbvio que cada um tem uma banda de cabeceira que acaba mudando em cada fase que você vive, mas falando todo músico, escutar diferentes estilos musicais só traz benefícios ao nosso trabalho. Acho que um grande exemplo disso é a música Canudos!

Maurício: Além dos grandes expoentes do metal pesado, gosto do Geraldo Vandré, Luis Caldas, Tião Carreiro, Elomar, e por aí vai.

João: Mas vale dizer que algumas bandas são um fator comum entre todos da banda, principalmente aquelas que combinam história e metal. Blind Guardian, Iron Maiden, Grave Digger, Sabaton, pra citar algumas. 

EC - As letras da Armahda são inspiradas em episódios da história do Brasil. Alguém da banda tem alguma ligação com a área de história? Como é o processo de composição das músicas?
Maurício: A história da explosão dos paióis em Deodoro/RJ foi vivenciada pelo meu avô, minha avó, seus filhos, e era contada em minha família. Por ter feito carreira militar e ter trabalho também no governo, as histórias contadas por meu avô abriram portas na minha imaginação. Ele conheceu muitos dos presidentes, índios, e também o Rondon, o Prestes, Miguel Costa, Haile Salassie… Minha avó era prima do Camargo, do MMDC, e seus ascendentes lutaram na guerra da Tríplice Aliança, Canudos, Contestado. Então esse foi o contato que tive com a história: foi por meio de “contos de família”. Hoje, temos colaboração e apoio de historiadores, escritores, parentes de grandes nomes de nossa história e, principalmente, amigos e amigas formados em história, que sugerem temas para o Armahda, e nos ajudam muito.

Renato: Não temos ligação acadêmica com a História do Brasil. O que mais nos chama a atenção são os episódios importantes de nossa História, muitas vezes pouco divulgados e que não deveriam ser esquecidos. E é assim que começa o processo de composição: escolhemos o tema,  e então começamos a elaborar melodias e letras.

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O primeiro álbum da banda lançado em 2013.
EC - O primeiro álbum da banda o "Armahda" foi lançado em 2013. Vocês poderiam falar um pouco do processo de gravação do álbum? Ele conseguiu corresponder a expectativas de vocês em relação a receptividade do público?
Maurício: Eu, o Renato e o Rafael Zeferino gravamos tudo, e teve participação do Edson Xavier no baixo de Canudos, da Cíntia Scola no coral de Uiara e do grande Silvio Navas, inesquecível dublador, em Armahda. Quando vemos a galera abrindo roda nos shows temos a certeza de que superou nossas expectativas.

João: Uma historia curiosa. Eu, Maurício, Renato e mais uma galera tocavamos numa banda, lá pelos anos 2000 e pouco. Eram uns covers e outras tentativas de som próprio.  E algumas dessas músicas e arranjos nasceram nessa época. Eu, depois, fui fazer faculdade, acabei me dedicando à profissão e me afastei um pouco do metal. O Renato e o Maurício, como já disseram, tocaram o projeto, as gravações, tudo. E um belo dia, o Maurício chegou lá em casa com o CD pronto, insistindo pra que eu ouvisse. Quando escutei algumas daquelas partes que tocavamos nos ensaios, bem gravadas, pesadas, foi como realizar um sonho que eu nem sabia que tinha. Daí voltei com tudo pra bateria e pro metal.

EC - Apesar de cantarem sobre a história do Brasil, a música "Paiol em Chamas" é até o momento, a única música cantada em português. Como é a reação do público para essa música? Vocês pretendem fazer mais canções em português?
Paulo: É a única que é inteiramente em português, temos mais músicas com alguns trechos em português também. O interessante é que Paiol em Chamas é das nossas músicas mais populares, isso nos inspirou a fazer mais músicas em português, certamente no próximo álbum teremos mais.

Ale: Esse é um ponto que tenho que dar a cara a tapa. Sinceramente, sempre tive bastante reservas com relação à músicas de metal escritas em português, pois temos vários fatores que vão desde a sonoridade, passando pela dificuldade de construir rimas, etc… Somado a tudo isso, não podemos nos esquecer que as bandas de metal do Brasil que tiveram sucesso de verdade sempre usaram o inglês!  Mas felizmente o momento mudou e grande hit do álbum está aí para mostrar isso.

Maurício: Lógico que vai rolar mais coisa em português.

EC - A banda faz parte do movimento "Levante do Metal Nativo". Vocês poderiam falar como surgiu a ideia de criarem esse movimento? E o que significa para o Armahda fazer parte do Levante?
Renato: Creio que o Levante surgiu quando as próprias bandas descobriram outras que abordavam temas relacionados ao Brasil. Então surgiu a ideia de unir essas bandas pela temática, e não pelo estilo dentro do metal. Hoje o Levante conta com 8 bandas que tocam desde o metal tradicional até o death metal e todas elas tem o objetivo de difundir nossa cultura através do metal. Para o Armahda é uma honra estar ao lado de bandas importantes e ricas musicalmente; esperamos continuar esse trabalho e trazer mais bandas interessadas nessa parceria.

Maurício: A ideia é virar tipo um selo de qualidade cultural.

EC - Ano passado a banda tocou aqui no Rio de Janeiro pela primeira vez, eu estava naquele dia foi um belíssimo show, principalmente na hora da música "canudos". Como foi a experiência de tocar no Rio pela primeira vez, e em uma casa de show tão tradicional na cidade como o Circo Voador?
Paulo: Foi sensacional, nós crescemos escutando bandas que quando tocavam no Rio, na maioria das vezes, era no Circo Voador, então foi como um sonho virando realidade, poder tocar no mesmo lugar que tantos de nossos ídolos já passaram. Sem contar que a recepção que tivemos da equipe da casa, não poderia ter sido melhor, nos ajudaram em tudo e nos trataram muitíssimo bem. Isso tudo fez com que ficássemos muito felizes e empolgados, e com certeza, o resultado foi que fizemos um dos nossos melhores shows até hoje.
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Foto divulgação show do Rio de Janeiro em 2016.

Renato: O público foi incrível. Ficamos surpresos em ver muita gente cantando as músicas.

Maurício: O RJ é berço de nossa história. Podem perceber que a maioria dos temas abordados pelo Armahda aconteceu no RJ! Imagino até hoje o Getúlio Vargas atirando pelas janelas do palácio do Catete, as invasões piratas na Guanabara, mas nada disso se compara às minhas memórias do pessoal agitando em nosso show no Circo Voador.
Queremos MUITO uma nova oportunidade de tocar no Rio.

João: Foi foda. Subir num palco que faz parte da historia cultural do Rio, onde tantos nomes de peso já tocaram, foi inesquecível. A energia, a estrutura, a equipe parceira. Foi perfeito. E foi muito legal ver a galera conhecendo o Armahda e aprovando. Vendemos todos os CDs que levamos e praticamente esgotamos nossas camisetas. Ou seja: certamente um show que conquistou novos fãs pro Armahda. Esperamos que tenha sido o primeiro de muitos no Circo e no Rio.

EC- Vocês já estão trabalhando em um novo álbum? Quais temáticas vocês gostariam de explorar nas novas músicas?
Paulo: Sim, estamos, mas de resto, ainda é segredo hahaha.

Renato: Acho que podemos dizer que estamos trabalhando em temas que ficaram de fora do 1º álbum e outros sugeridos por pessoas que seguem a banda e nos mandam mensagens. 

Maurício: Escravidão e religião.

João: Nossa história e uma fonte inesgotável de boas letras e boas temáticas. Tem muita coisa boa rolando na cabeça do Renato e do Maurício, principais letristas da banda. Tenho certeza de que nosso segundo álbum vai ainda mais longe, não só pelas músicas, mas pelo conteúdo também.

EC - Mais uma vez agradeço pela entrevista, antes de encerramos, vocês poderiam deixar uma mensagem para os nossos leitores?
Paulo: Um muito obrigado à todos os fãs que nos apoiam e à oportunidade de podermos falar mais um pouco sobre nosso trabalho, e deixar um abraço pra todos aí do Rio.

Renato: Obrigado a todos pelo incentivo. Muito bom saber que muitos de vocês se interessam sobre a História do Brasil. Valeu!

Maurício: Muito obrigado! Busquem a verdade, na história, no metal e na vida.

João: Colem nos shows! Venham assistir de perto! Apoiem o Metal nacional



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