10/06/2011
ENTREVISTA: Imago Mortis (Brasil)
Nós, do elegia em canto estamos sempre atrás de novidades no cenário do metal seja nacional ou internacional. Da última vez que vi meu grande amigo Alex, foi no show de abertura de minha banda para com a dele...foi simplesmente magnífico...Em conversa com ninguem menos que o próprio Alex, tiramos diversas dúvidas de seus fans e isso incluiu até mesmo dúvidas pessoais da época que conheci a banda pela primeira vez em junho de 2000. Exatos 11 anos se passaram e diante de reformulações musicais e de integrantes, a banda se mantem intacta no quesito fidelidade aos fans... Confira a entrevista:
EC- Iniciando a entrevista, vamos mudar a logica das coisas, maioria das entrevistas começa pela pergunta pra lá de retórica sobre o inicio da banda, no entanto, vamos mudar as coisas... Vamos mais um pouco ao passado com você no Alchemist e no Dust From Misery , sente saudades destes momentos e usando do termo ‘’saudades’’, você teve saudades dos palcos estando próximo de cinco anos afastado? Por que houve este hiato de cinco anos?
EC- Iniciando a entrevista, vamos mudar a logica das coisas, maioria das entrevistas começa pela pergunta pra lá de retórica sobre o inicio da banda, no entanto, vamos mudar as coisas... Vamos mais um pouco ao passado com você no Alchemist e no Dust From Misery , sente saudades destes momentos e usando do termo ‘’saudades’’, você teve saudades dos palcos estando próximo de cinco anos afastado? Por que houve este hiato de cinco anos?
Alex Voorhees - Em primeiro lugar, saudações aos leitores, amigos, amigas e todos os que se interessaram por nosso trabalho! Foram alguns anos longe dos palcos sim, não precisamente tanto tempo quanto você citou, porém pareciam 50. Para um artista perceber sua real vocação, necessitamos de vez em quando de um renascimento, antecedido por um período de exílio. Foi como uma auto avaliação. E, durante este período pude perceber... além de inúmeros fatos, alguns muito trágicos, que realmente é isto o que sou: um artista. Algumas vezes parei para pensar se isto era algum problema, se era por causa do ego, a razão desta necessidade daí compreendi que isto é natural, é a forma como eu melhor consigo expressar meus sentimentos e impressões. E eu faço isso com muito amor. Respondendo a questão de Alchemist e Dust From Misery, são boas as lembranças que eu guardo e volta e meia eu sinto sim, saudade de estar no palco com eles ou tocar algumas
daquelas músicas.
daquelas músicas.
EC- Ainda me recordo como se fosse ontem, em Junho de 2000, vocês tocando em um festival aqui próximo de casa, em NILOPOLIS, na Praça de Nilópolis, e eu como era fan de teclados, e mais tarde acabei virando tecladista, sobre influencia total de Lorentz Aspen (Theatre of Tragedy), gritava por diversas vezes atrás do palco ‘’KAWAI MP 9000” que era o teclado de Alex na época... Você se recorda deste momento? Vocês praticamente foram a banda mestre da noite...tem saudades de quando o cd era vendido sem pirataria, quando os shows viviam entupidos de pessoas, quando existiam muitos fieis aos seus ídolos como eu fui com o Alex, assim como você deve ser com os seus?
Alex Voorhees - Eu tenho este show gravado, acredite. Assista um trecho aqui
E muito obrigado pelo elogio, sem querer desmerecer as outras bandas que estavam naquela noite memorável, acredito que fizemos uma boa apresentação onde tivemos oportunidade inclusive de tocar duas músicas que posteriormente fizeram parte do VIDA. Hoje em dia o cenário musical mudou, não há mais tanto o formato CD, ainda assim existem as pessoas que preferem adquirir material físico como forma de souvenir, etc... Ainda existe público, muitos antigos, permanecem fiéis ao estilo rock pesado. Meus objetivos agora como artista não se concentram mais em pertencer a alguma tribo ou nicho, muito menos adquirir o maior número de fãs possíveis, meu objetivo é e sempre será apenas fazer MÚSICA, a melhor que eu puder, sempre sincera, honesta, vinda do coração, do sentimento, criada de uma forma fiel aos fãs.
EC- Outro momento que me recordo, foi quando tocamos juntos no mesmo palco, também em Nilópolis, quando minha banda teve a honra de abrir o show de vocês... Como é para vocês terem bandas nascendo agora, tendo a oportunidade de tocar com mitos como vocês? É gratificante? Estávamos engatinhando naquela época, e ainda sim, arrancamos tantos elogios de vocês, quanto do publico, achamos divino isso, coisa de outro mundo. O que significa pra você ver uma pessoa começando a tocar agora e vendo você falar bem da banda dele/dela que você vê que eles se sentem orgulhosos com isso...?
Alex Voorhees - Assim como as pessoas podem ouvir e gostar do meu trabalho, eu também posso ouvir outros artistas, sou um fã ávido por música. No meu repertório não há qualquer tipo de preconceito, ouço o que eu gosto e que acredito que seja sincero, feito com o coração e confio no meu filtro. Evidentemente eu tenho preferências, ouço a maior parte do tempo música erudita, os gênios Beethoven, Mozart, Chopin, Liszt, Richard Wagner entre muitos outros. Aprecio jazz, blues, rock em suas mais diversas tendências (do mais simples ao progress passando pelo mais pesado), algo da nossa MPB, entre tantos outros. Volta e meia eu vejo um novo artista ou um artista desconhecido e o mesmo vale para eles, não faço distinção de localidade/estilo e se me agradar, vai para o meu playlist. Não apoio cenas, já fui muito disto, mas hoje em dia apenas faço minha parte.Se alguma banda vier me pedir ajuda, serei solícito porém não sinto mais conexão com nenhum movimento artístico, apenas o movimento IMAGO MORTIS e faremos sempre nosso melhor. Ironicamente isto, por si só, serve de ajuda e incentivo para outros artistas.Respeitamos todos eles, por igual. Seja a banda nova ou antiga, nacional ou estrangeira. O que interessa é a qualidade do trabalho.
EC- Alex Estou certo de que tanto para mim quanto para você, é triste ver bandas como Venin Noir, Avec Tristesse dentre outras se desfazendo... Não é um luxo somente nosso, temos o Sarcófago e indo mais longe, bandas como Theatre of Tragedy, Funeral, The Sins of Thy Beloved fechando as portas e isso também se estende a bandas que você esteve dentro, uma delas é o Dust From Misery...quando vi o Imago sumido e vendo os anos se passarem sem nenhuma novidade de disco, sem nenhum site, sem nada, logo imaginei que seriam os próximos a se tornarem mais uma a ser historia somente e nada mais...Como você encara esta coincidência com bandas de fora, apesar de aqui ser mais propenso a tais encerramentos de bandas, queria que você me dissesse o que você acha também de bandas do norte europeu, que não precisam tanto de dinheiro assim, estarem acabando, mencione sobre as daqui também se possível...
Alex Voorhees - Olha, para ser sincero, não posso responder pela motivação das outras bandas. Muitas bandas acabam outras surgem, sempre é assim. Tudo na vida tem um início, um meio e um fim. Algumas bandas conseguem, porém, reavaliar sua própria carreira e decidir o quanto é importante estar em atividade. No caso do IMAGO MORTIS, ainda penso que há muito o que dizer, é por isso que estamos aqui.
Por outro lado, é triste para a música em si, artistas tão talentosos como estes supracitados, incluem aqui também a Trinnity, se desfazerem. Não apenas pela nossa amizade nos velhos tempos da “goma” (meu antigo apartamento na R. São Miguel, que era como um ponto de encontro de amigos e bastante frequentada por estes e vários outros músicos de várias bandas) mas também pelos belíssimos trabalhos, tanto em concertos como em composições. Sinto saudade deles...
EC- Eu me recordo que no passado, alguns viviam comparando vocês com CANDLEMASS, que por sinal acredito que seja uma de suas influências, como é para você ser igualado a tal banda pelos fãs e ainda ouvir de alguns que sua voz é muito similar a do ex membro do Candlemass Johan Langquist, dentre outros vocalistas que já estiveram na banda com mesmo timbre de voz?
Alex Voorhees - Recentemente eu li uma entrevista, por sinal, respondida pelo Fábio Shiva (ex-Imago) na qual ele comentava que tudo o que ele escutava era influência, tanto positiva como negativa, pois acabamos por entrar em contato com aquela informação. Estas informações interagem conosco às vezes de forma inconsciente. Eu não poderia concordar mais. Porém, não vejo muito o porque da tal comparação com o Candlemass pois foi uma banda que eu comecei mesmo a ouvir após a entrada no Imago Mortis, apesar de conhecer algo e ser um fã de música mais sombria na época. Assim mesmo, creio que seja um grande vocalista, dono de um belíssimo timbre, não deixa de ser um elogio. A minha fonte é diversa, são tantas as vozes que eu gosto. Eu tento apesar disso tudo, soar como eu mesmo, deixando fluir naturalmente.
EC- Como foi criar seu projeto solo? No Imago você não conseguia criar o que você pode criar em seu projeto solo? Vejo que muitos estão fazendo isso, e vai além das fronteiras, seja homem ou mulher, vermos Andre Mattos, Liv Kristine, Tarja atribuindo a SOMENTE carreira solo, o que você atribuiria a este fato de membros muitas vezes fundadores de uma banda, ir para uma carreira solo?
Alex Voorhees - Meu projeto solo foi ideia de amigos e surgiu espontaneamente, como uma forma de canalizar um sentimento mais rocker, ser fiel ao momento ao mesmo tempo resgatar minhas raízes musicais e isto foi na época que completei 20 anos de carreira. Como todos sabem, comecei cantando Heavy Metal Tradicional em Português nos anos 80 e, posteriormente, Thrash Metal em inglês nos 90. Estas são minhas origens. Quis marcar isto com um registro de estúdio e fazer alguns shows. Fazia tempo que eu não lançava músicas mais básicas e diretas. Apesar de estas músicas soarem bem clichês, creio que há uma marca, elas são únicas.Tinham algumas músicas que nunca lancei, inclusive que fizeram parte do repertório de bandas como Dust From Misery (Voice From Within, por exemplo) que eu sempre quis gravar daí pude incluir neste trabalho. Está disponível no endereço: www.myspace.com/alexvoorheesband
Pretendo ir, aos poucos, colocando novas músicas por lá, assim que conseguir tempo para gravá-las, pois são muitas. É um trabalho despretensioso, apenas para registrar algo mais rocker e direto, porém são boas músicas.
EC- Vida, The Play of Change é um álbum majestoso, assim como os demais. Não vou citar meu álbum predileto, pois você já sabe qual é, no entanto, a pergunta que todos fazem atualmente, algum projeto em andamento, novo disco e se sim, há previsão?
Alex Voorhees - Sim, a parte textual e de pesquisa está pronta e isto servirá de base para as letras.O conceito é bem complexo e foi feito sob intensa pesquisa prévia, muita leitura e muitas reflexões tanto a nível pessoal quanto à nível de percepção empírica mesmo.Na parte musical há várias melodias e ideias, o que falta é organizar e lapidá-las. Inclusive, ao responder esta entrevista, me encontro em pleno processo de ebulição artística, estou compondo em ritmo frenético e obsessivo, só pararei para respirar. Este novo trabalho apresentará algo muito visceral, eu diria mas com uma carga emocional muito intensa, é outro trabalho conceitual mas é diferente de tudo o que o Imago Mortis já vez.Não haverá limites para a criação e todos os rótulos serão derrubados.
EC - Se pudesse, se lhe cedessem dinheiro, tempo e material suficiente para regravar Images from the shade gallery, o que você adicionaria a este álbum e o que seria removido?
Alex Voorhees - Eu pensaria em incluir uma versão bônus sim, (Seed of Hate) que inclusive faria parte deste mesmo trabalho. Mas eu não vejo muito sentido em regravar este CD, ele é ótimo do jeito que está, apesar de ser tentador colocar a minha voz em músicas como The Shoemaker (na íntegra), Dying Pantheon, Deus Lhe Pague, Res Cogitans.A faixa “Bring Out Your Dead”, regravada em 2006, todos puderam conferir como bônus do CD “Transcendental”.
EC- Como uma forma de atrair novamente os fans da banda, e até mesmo atingir a outros que ainda não eram fans, vocês liberaram o download de toda a discografia do Imago Mortis, isto deve-se ao fato de que hoje em dia não adianta mais gravar CD? Neste caso, seu próximo lançamento será completamente digital como algumas bandas estão fazendo com seus Eps e discos completos? E caso venha a gravar em disco físico, sabendo de seu retorno, alguma gravadora já possui interesse em lançar vocês?
Alex Voorhees - Sim, existem gravadoras interessadas e não abandonaremos o formato físico. O formato físico será mais elaborado, luxuoso e, como eu disse, é como um souvenir. É bonito ver a arte impressa, a capinha, encarte e temos planos de lançar em formato digipack com alguma atração extra, pois vamos disponibilizar, certamente, a versão gratuita para download. Quem quiser adquirir terá que se apressar pois faremos uma prensagem pequena, podendo prensar mais de acordo com a demanda. Outro plano que temos seria o lançamento de um DVD. Faremos um concerto no Roça 'n' Roll – em Varginha, em Junho. Tocaremos o VIDA na íntegra e seria interessante ter isto bem registrado em vídeo. Como não é justo lançar um DVD englobando apenas uma fase da banda, podemos pensar em mais um no futuro. O meu sonho seria gravar um show completo, acompanhado de uma Orquestra.
EC- Como toda banda, A banda Imago Mortis não é diferente de nenhuma no quesito “Membros deixando a banda” Como é lidar com isso, cada membro que sai e outro que entra, é basicamente um recomeço para a banda, passar as músicas, e lembro até que nossa tecladista (Loreena Vabo – Nocturnia) chegou a ‘’tocar’’ com vocês em um momento... O que você acha disso tudo, por que é tão complicado manter uma formação viva por tanto tempo? Será que a prioridade de cada vai mudando ao decorrer de suas vidas?
Alex Voorhees - Sim, é isto mesmo o que você disse. A prioridade das pessoas vai mudando. E, por estas razões, algumas delas deixaram o Imago Mortis. Estar nesta banda exige um sacrifício, somos uma banda de estrada, trabalhamos pesado mesmo. O Imago Mortis não é um hobby, ao mesmo tempo não é um meio de sobrevivência para nós, todos precisam de outras atividades para pagar suas contas.
O Sistema Capitalista é inimigo da arte, inimigo da cultura, da liberdade, um sistema injusto do qual eu detesto. Precisamos morar, dormir, comer, sair, uma série de coisas e somos obrigados a ter um meio de captar dinheiro. Então esses compromissos acabam atrapalhando e muito as nossas atividades. Volta e meia fazemos algum sacrifício (pois cansa ser escravos o tempo todo) e nos lançamos na estrada por várias semanas. Mas não é todo mundo que aguenta o tranco e suporta as loucuras e os suicídios comerciais que o Imago faz por pura entrega artística. Se pudéssemos viver apenas disto ou de atividades que se enquadrem na nossa rotina como artistas, seria perfeito.
EC- Como foi para você retornar aos palcos com membros do Dust From Misery? Delacroix era um membro desta banda, desde sua primeira formação suponho, matou sua saudade? Como é hoje criar uma realidade paralela onde você pode simplesmente trabalhar as duas bandas psicologicamente estando somente em uma? Até onde vai o prazer de estar assim, resgatando totalmente seu passado no atual momento da carreira?
Alex Voorhees - Trabalhar com o Delacroix é uma questão de confiança. Além de um grande amigo, este cara é, simplesmente, um dos melhores bateristas de rock pesado do país, além de tocar muito mais do que apenas rock. A sonoridade do Dust From Misery pode ser sentida em alguns momentos no próprio Imago, principalmente no álbum “Transcendental” pois eu também compunha bastante no Dust, naturalmente trago herança de todas as sonoridades não só do Dust, mas de todas as bandas com as quais já trabalhei. O próprio Dust já sofreu influência do Alchemist, do próprio Imago e por aí vai, tudo o que a gente aprende durante a vida acaba servindo como base para tudo o que a gente faz.
EC- Para finalizar, foi mais que uma honra ter esta entrevista com você, que para mim, é um profeta do metal, espero que tudo de certo na carreira do imago...uma mensagem para os fans...
Alex Voorhees - Muito obrigado pelo elogio! Profeta do Metal, Guru, não poderei aceitar tais referências apesar de ficar lisonjeado com isso. Talvez se deva ao fato da idade, eu tenho 40 anos e pelo menos 20 deles foram cantando em bandas de rock, rs. Mas eu tenho muito o que aprender, sempre e vejo muita gente jovem por aí dando um banho de talento em nós, galera das antigas. Portanto não subestimo ninguém, somos todos iguais e sempre temos informações importantes para trocar um com o outro. Quanto aos leitores e nossos admiradores, espero que vocês tenham gostado de ler esta entrevista tanto quanto eu gostei de respondê-la. Podem contactar-nos a vontade, será um prazer falar com todos vocês! E um recado para as meninas: estou solteiro, aproveitem (risos).
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