24/09/2013
RESENHA: Degrador na 84ª Semana do Fazendeiro Viçosa-MG
Em entrevista à TV Cocoricó – isso mesmo que vc leu! – do dia 15 de abril desse ano, Andreas Kisser,guitarrista da lendária banda Sepultura ao falar de sua experiência anterior à banda que integra atualmente contou que, com sua primeira banda, Esfinge, ele tocava em qualquer oportunidade que surgia: “Já toquei em festa junina (...) rockão pesado. Até hoje [tento entender] porque deixaram (...) Festa junina foi o mais estranho. Nada a ver”.
Porque se lembrar dessa entrevista? Ora, por dois motivos: primeiro, pelo fato do inusitado de uma banda de metal tocar “fora de seu contexto” e, segundo, pelo fato de ser um relato vindo do guitarrista da banda que é maior influência para a banda de Death/Thrash Metal Degrador que se apresentou nessa quinta-feira, 19, na tenda do Circuito Turístico Serras de Minas na 84° Semana do Fazendeiro.
Formada por José Augusto (baixo e vocal), Rone Damayza (guitarra) e Marcos Vinícios (Bateria) a banda de Paula Cândido-MG – escalada para se apresentar às 18:00, depois de superado, com a ajuda dos fãs e entusiastas da banda que já começavam a se aglomerar, o problema do das caixas de som, que devido à baixa potência das caixas disponibilizadas pelo organizador não suportaria o “barulho” sendo necessário o empréstimo de alguns amplificadores – se apresentou na 84° Semana do Fazendeiro em Viçosa. Era ainda cedo, por volta de 18:40, quando foi iniciada a apresentação com duas músicas autorais (Porra! peço desculpas aos leitores por não recordar os nomes das músicas), uma chuva de peso. A banda prosseguiu com a porradaria, executando “Arise”, “Beneath the Remains”, “Roots”, “Kairos” (a única da fase Dereck Green executada, essa do disco homônimo de 2011), “Troops of Doom”, “Inner Self”, “Refuse/Resist”. Incrível a precisão com que foram executados esses clássicos!
Simplesmente inusitado, porque “fora do contexto”. Banda e público – que compareceu em peso, formando uma imensa mancha de camisas pretas em meio às botas e chapéus dos fazendeiros – ficaram acanhados (tanto que o próprio vocalista em conversa posterior disse não ter sido como num show de metal), mas nem tanto, nada que atrapalhasse a execução das músicas ou a energia da apresentação dos caras. Enquanto a banda se apresentava os headbangers presentes bageavam até a morte e até alguns pits se formavam (o que deixava os demais presentes – curiosos e curiosas que transitavam pela tenda – horrorizados). O vocalista não deixava de agradecer – e isso foi feito sempre no intervalo de uma música para outra – a presença dos amigos e da galera do metal e incentiva a galera a ir para frente representar (o que foi atendido por poucos, a maioria preferiu ficar mais contida).
O que torna curiosa essa apresentação é o fato de o organizador do Circuito Turístico Serras de Minas, que se propõe promover a cultura mineira, por meio da integração contínua dos municípios, fortalecendo uma identidade regional, ter aberto o espaço para uma banda de metal se apresentar. Não é novidade para nós que curtimos metal que esse estilo de música já faz parte há mais de 30 anos de nosso patrimônio cultural – e isso foi lembrado por André “Quick” Rocha, vocalista da banda Scrotinhos, que tomando a palavra, disse que o heavy metal faz parte da cultura mineira e que em Viçosa e região os festivais acontecem com frequência – mas, para o grande público em geral, que pouco (ou nada) entendem desse estilo, essa afirmativa torna-se problemática.
“Essas coisas não podem ficar escondidas”, dizia o organizador do Serras de Minas. Por essa e por toda a presença da galera do metal que marcou presença e reivindicou seu lugar na cultura mineira, e sobretudo, na Semana do Fazendeiro, que valeu cada minuto dispensado para a audição do som ao vivo da Degrador. Parabéns ao organizador, parabéns à banda e parabéns aos bangers e thrasers presentes. Que ano que vem possamos contar com outras bandas, quem sabe, as de Viçosa. Metal till death!
texto: Ramon da Silva Teixeira